Não há evidências de que o coronavírus só sobrevive em temperaturas de até 36 graus

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Especialistas concordam que o calor contribui para a inativação de vírus, mas ressaltam que a temperatura da região por si só não é determinante para reduzir a disseminação da covid-19, pois o contágio se dá de diferentes formas

 

Uma corrente que circula nas redes sociais (veja aqui) afirma que o novo coronavírus só sobreviveria em temperaturas de até 36ºC, mas autoridades de Saúde, especialistas e a literatura científica existente sobre o tema não atestam essa alegação.

Uma abrangente revisão acadêmica publicada em agosto deste ano estimou que o Sars-CoV-2 sobreviveria por cerca de 10 horas aos 35ºC e que somente após os 55ºC seria eliminado quase de imediato. Esse artigo, porém, desconsidera fatores importantes, como a umidade relativa do ar e a superfície onde o vírus estava.

Além disso, OMS (Organização Mundial da Saúde), biólogos e médicos afirmam que, mesmo em ambientes mais quentes, há risco de contágio por meio de partículas que ficam no ar quando alguém infectado tosse ou fala. E, se não resistisse acima dos 36ºC, o vírus seria desativado dentro do corpo humano, cuja temperatura média é de 37ºC.

 

O vírus do corona suporta até 36 graus

A literatura científica sobre a resistência do novo coronavírus ao calor e as afirmações de autoridades e especialistas não atestam que o Sars-CoV-2 só suporta temperaturas de até 36ºC, como alega um texto que circula no WhatsApp e no Facebook.

Uma revisão acadêmica abrangente de análises termodinâmicas publicada na Applied Physics Letters traçou estimativas de sobrevivência de diversos vírus da família corona em temperaturas de 25ºC a 65ºC e indicou que o Sars-CoV-2 sobreviveria cerca de 10 horas em um ambiente com temperatura de 35ºC.

Aos 45ºC, o vírus ainda resistiria cerca de 1 hora e 40 minutos, e aos 50ºC, cerca de uma hora. A eliminação quase que imediata só ocorreria acima de 55ºC. Veja a evolução no gráfico abaixo, extraído do estudo.

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O artigo, porém, reconhece as limitações da análise, o que impede que tais estimativas sejam tomadas como regra. Foram desconsiderados fatores importantes no contágio pela doença, como a umidade relativa do ar no ambiente e a superfície onde o vírus estava.

Especialistas concordam que o calor contribui para a inativação de vírus, mas ressaltam que a temperatura da região por si só não é determinante para reduzir a disseminação da Covid-19, pois o contágio se dá de diferentes formas.

Gabriel Arisi, fisiologista e professor da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), afirma que algumas superfícies, como asfalto e metal, quando expostas ao sol, alcançam temperaturas mais elevadas e, assim, têm potencial para eliminar o vírus mais rapidamente. Entretanto, ele alerta que o contágio pode ocorrer por meio de gotículas, principalmente em locais sem circulação de ar, apesar do calor.

Flávio Fonseca, virologista da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), detalha: “Se uma pessoa infectada está no sol e espirra ou tosse, ela infecta quem estiver ao lado dela. O vírus só vai ficar exposto ao sol se uma gotícula cair no chão e ficar exposta, mas aquela carregada pelo vento e que a pessoa respira não vai ficar inativada e vai contaminar”.

As variáveis de contágio também são consideradas pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que alerta que “você pode pegar Covid-19, não importa quão ensolarado e quão quente esteja o clima”.

Além disso, segundo a bióloga do IQC (Instituto Questão de Ciência), Natália Pasternak, se não sobrevivesse aos 36ºC, o Sars-CoV-2 não se multiplicaria no corpo humano, cuja temperatura gira em torno dos 37ºC. “Todo vírus é inativado com calor, mas se fosse de 36ºC ia ser difícil ele sobreviver no nosso corpo”, afirmou. Arisi complementa: “Mesmo em pessoas com febre, que podem chegar a 42ºC, 43ºC, o vírus ainda não desnatura”.

Esta alegação enganosa começou a circular após institutos de metereologia terem afirmado que as temperaturas de algumas regiões superaram recordes no começo de outubro. Em alguns locais de Mato Grosso do Sul, por exemplo, foi registrado um calor que passou dos 44ºC. Segundo meteorologistas ouvidos pela BBC Brasil, a estimativa é que a onda de calor dure até pelo menos o fim desta semana, com a previsão de chuvas e o aumento da nebulosidade.