A meta é criar no município uma grande rede de proteção a partir do treinamento de profissionais de saúde e de grande parte da população para atuarem de maneira ágil, segura e eficiente no atendimento de casos de parada cardíaca
Garantir a Botucatu o título de “Cidade Cardio Protegida”. Esse é um objetivo que se transformou em uma espécie de obsessão para o Dr. Edson Luiz Fávero Junior, médico que coordena o Time de Resposta Rápida do Hospital das Clínicas de Botucatu (HCFMB) e atua como instrutor do núcleo de cursos da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB/UNESP).
A meta é criar no município uma grande rede de proteção a partir do treinamento de profissionais de saúde e de grande parte da população para atuarem de maneira ágil, segura e eficiente no atendimento de casos de parada cardíaca, cumprindo as diretrizes e os protocolos de Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP). A metodologia escolhida – considerada a melhor do mundo – foi desenvolvida pela American Heart Association (AHA).
“A proposta é levar esse conhecimento para a comunidade e garantir que quando acontecer um evento de parada cardiorrespiratória na rua, em casa, nos ambientes com grande circulação de pessoas, a gente prontamente tenha alguém que saiba iniciar as manobras de reanimação que são simples, porém extremamente importantes e que elevem as chances de retorno à circulação espontânea e que essa pessoa depois consiga voltar para a casa com o mínimo de sequelas”, explica Fávero.
O curso “RCP Familiares & Amigos” será ministrado por instrutores da FMB credenciados internacionalmente. De aplicação bastante simples, o método inclui vídeos, manual teórico e simulações de situações reais com utilização de bonecos. O tempo médio de duração é de duas horas. A iniciativa conta com apoio da FMB e do HCFMB. A ideia é levar a capacitação para todas as unidades universitárias do campus da Unesp em Botucatu.
Na semana passada, trabalhadores e estudantes que atuam junto ao Centro de Saúde Escola (CSE) passaram pelo treinamento. Na quarta-feira (22) foi a vez de profissionais da Seção Técnica de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (STAEPE) da FMB e da Gerência de Comunicação, Imprensa e Marketing do HCFMB. A diretora técnica acadêmica da FMB, Silvia Sacramento Araujo Vieira, também participou. “É nosso dever enquanto escola de formação de profissionais para a área da saúde, apoiar iniciativas como essa, que amplia e qualifica a assistência à população”, disse.
Ao mesmo tempo em que deverá ocupar espaço na mídia nas próximas semanas para sensibilizar a opinião pública sobre a importância do projeto, o médico também pretende avançar com o curso junto a equipamentos de saúde que se relacionam com o HCFMB e a FMB. O estágio seguinte prevê levar o treinamento para empresas, escolas, instituições públicas e privadas que demonstrem interesse em participar dessa nova cadeia de assistência a ser constituída no município.
“Esse tipo de treinamento não pode se limitar aos profissionais da saúde. Quando o evento catastrófico acontece fora do hospital na maioria dos casos não haverá um médico ou enfermeiro ao lado da pessoa. Temos que treinar e levar esse conceito para as nossas famílias, para a sociedade como um todo, como já acontece em outros países, como Japão, Holanda, Alemanha e Estados Unidos. Temos que criar uma rede de proteção”, enfatiza Fávero.
Desfibriladores
Um dos obstáculos a serem vencidos para que a proposta avance é a ausência de uma cultura voltada à preparação da população para atuar na ressuscitação em casos de parada cardiorrespiratória. Outra dificuldade é o reduzido número de desfibriladores externos automáticos (DEAs) à disposição do público para ser usado em situações de emergência. Esses equipamentos, quando necessário, permitem a aplicação de choques no coração para fazê-lo voltar a funcionar.
“Queremos construir em Botucatu uma cadeia de assistência que ajudará a cuidar das pessoas, criando um conceito que não existe nem aqui, nem no país como um todo. Mesmo tendo uma das melhores faculdades de Medicina do país ainda não temos essa cultura, tão pouco o acesso facilitado aos desfibriladores, que quando expostos em locais estratégicos podem ser utilizados e garantir que a pessoa tenha o melhor atendimento até a chegada do serviço especializado de emergência. São equipamentos simples, mas que demandam investimento. Precisamos sensibilizar as autoridades do município que estejam junto conosco nessa luta”, afirma Fávero.
A intenção é conseguir parceiros que viabilizem a instalação de equipamentos em locais de grande circulação de pessoas como escolas, supermercados, shopping center, agências bancárias, além dos principais corredores comerciais. O médico admite a possibilidade de discutir com os vereadores a criação de uma lei que torne obrigatória a disponibilização de equipamentos de desfibrilação em determinados locais, assim como já acontece, por exemplo, com os extintores de incêndio. “Em países onde essa cultura já está enraizada há shopping centers onde o cidadão encontra três pontos de desfibrilação por andar”, ilustra.
Segundo o médico, a partir do momento que o cidadão compreende o que é uma situação de emergência, cria-se uma série de melhorias em todos os outros perfis de atendimento. “Ao saber identificar o que é uma parada cardiorrespiratória você também vai trabalhar outros conceitos. Isso vai tornar a cidade mais segura, inclusive sobre a utilização dos próprios equipamentos. Eu que sou especialista em medicina de emergência, vejo que as pessoas procuram o nosso serviço muitas vezes de maneira inadequada. É responsabilidade da FMB difundir o conhecimento para que as vítimas cheguem ao hospital em melhores condições para continuarmos o atendimento pelo Time de Resposta Rápida, pela emergência, pela Clínica Médica, no Pronto Socorro Adulto ou no Pronto Socorro Referenciado”.
Apesar dos desafios, Fávero acredita que o apoio institucional que o projeto recebeu da direção da FMB e do HCFMB abrirão novas portas e permitirão avançar com a ideia. “Aqui começa um grande projeto. Vamos em busca de conseguir um novo título para Botucatu que é o de Cidade Cardio Protegida. Isso acontecerá quando tivermos um número suficiente de pessoas treinadas e acesso aos desfibriladores elétricos automáticos na comunidade. É uma pedra num lago. Estou muito otimista que encontraremos os parceiros para levar essa ideia adiante. Essa onda de transformação vai trazer um perfil de melhora muito significativo ao atendimento de situações de emergência em nossa cidade”.
Interessados em participar, apoiar ou saber mais informações sobre o projeto podem entrar em contato com o STAEPE da FMB através do telefone (14) 3880-1038.
Texto/Fotos – Assessoria de Comunicação e Imprensa / FMB