Médico enfatiza que a flurona não é um novo vírus e que os casos desta infecção dupla não apresentam maior gravidade em indivíduos sem fatores de risco
Em meio à pandemia do novo coronavírus e da disseminação de casos da cepa H3N2 da influenza, um novo nome começa a trazer preocupação para a sociedade em 2022: a “flurona”, caracterizada por um raro contágio simultâneo com os vírus da gripe e da covid-19.
De acordo com a Agência Brasil, os primeiros casos deste quadro foram detectados nos Estados Unidos em 2020, mas o nome derivado a partir dos termos "flu" (gripe, em inglês) e "rona" (de coronavírus) ficou mais conhecido no final do ano passado, com o caso de uma paciente israelense do sexo feminino, grávida e não vacinada, que contraiu as duas doenças ao mesmo tempo, apresentando sintomas leves. Outros países também já registraram casos confirmados de flurona, incluindo o Brasil.
Chefe do Serviço de Infectologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), Dr. Alexandre Naime Barbosa enfatiza que a flurona não é um novo vírus e que os casos desta infecção dupla não apresentam maior gravidade em indivíduos sem fatores de risco. “Acreditamos que o relaxamento das medidas sanitárias com as festas de fim de ano favoreceu o aumento da quantidade de infectados por covid-19 e por influenza, além do surgimento de mais casos de flurona”.
Os sintomas das duas doenças respiratórias são semelhantes e, com isso, torna-se difícil a identificação dos casos. “Já tivemos pacientes com até 3 vírus detectados simultaneamente, o que aumenta a importância da abordagem precoce e da testagem adequada”.
Dr. Alexandre aponta que as medidas de prevenção contra a flurona são praticamente as mesmas aplicadas contra a covid-19 e a influenza: usar máscaras de proteção, evitar aglomerações e realizar a higienização das mãos frequentemente, além da vacinação completa contra as doenças.
“A atual vacina contra a influenza não contempla a cepa H3N2, a mais circulante neste momento. Mesmo assim, incentivamos as pessoas a completarem o esquema vacinal, que atenua a gravidade dos casos, e que procurem atendimento médico ao menor indício de sintomas gripais”, encerra.
Médica diagnosticada com très vírus
Um caso recente atendido por Naime foi o de uma médica de 49 anos, moradora de Botucatu, diagnosticada como tendo sido infectada por três vírus respiratórios ao mesmo tempo. Com isso, a ginecologista precisou ser isolada por estar com covid-19, influenza e resfriado. Mulher começou a sentir os sintomas gripais no dia 19 de dezembro e o procurou no dia 21. O diagnóstico da infecção tripla aconteceu após a realização de um exame conhecido como painel viral, um dos mais completos para investigação de síndromes respiratórias.
Segundo Naime, o exame apontou a presença do vírus da Sars-Cov-2 (causador da covid-19), o da Influenza A (provavelmente o da H3N2) e de um adenovírus, responsável pelos resfriados comuns. O exame não inclui o sequenciamento genético para o vírus da covid, mas o médico diz que possivelmente é a variante ômicron.
Com o diagnóstico confirmado, a médica, que teve apenas sintomas leves, foi isolada por dez dias e, no início deste ano, recebeu alta médica para retomar as suas atividades profissionais. Além disso, ninguém na casa da paciente (marido, dois filhos e a mãe idosa) foi infectado.
Ainda de acordo com Naime, o caso de Botucatu é didático e um exemplo forte de como uma infecção dupla ou mesmo tripla pode acontecer. Em seu relato, a ginecologista admitiu uma intensa atividade social no período que antecedeu o aparecimento dos sintomas.
Duas semanas antes de procurar o consultório de Naime, a médica participou de um grande torneio de beach tennis, com participação de mais de 50 pessoas, depois foi a um encontro de amigas em uma adega e por fim participou de um encontro familiar durante as festas de fim de ano.