Sempre que há identificação de novas cepas ou subtipos, ou mesmo de variantes desses subtipos, há preocupação em relação à maior facilidade de transmissão, se levam a quadros mais graves e de evolução mais rápida e se podem ser resistentes aos medicamentos atualmente disponíveis
Em 1981, o mundo assistia à descoberta dos primeiros casos de doenças relacionadas com o vírus da imunodeficiência humana (aids), mais conhecido como HIV. Mais de 40 anos depois, cientistas da Universidade de Oxford identificaram uma nova cepa mais contagiosa deste vírus.
De acordo com divulgação realizada na última semana, pela revista científica americana Science, a chamada variante VB circulou na Holanda nas últimas décadas. Esta, porém, não é a primeira variante do HIV a ser descoberta.
Segundo a médica infectologista e Gerente Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB) Dr.ª Lenice do Rosário de Souza, o vírus é classificado, de acordo com sua variabilidade genética, em dois grupos: o M (Major) e O (Outlier) sendo que, no primeiro, está classificada a maioria das cepas responsáveis pela pandemia de aids, correspondente a cerca de 90% dos casos em todo o mundo. “Atualmente, eram 10 subtipos diferentes pertencentes ao grupo M, identificados por letras de A à L. Este último foi identificado em 2019, porém os diferentes subtipos já existem há muitos anos. Os subtipos mais encontrados no Brasil são o B, o F e o C – este, principalmente, na região sul do país”.
A variante do subtipo B, a VB, possui algumas diferenças em relação às outras cepas do vírus. “Sempre que há identificação de novas cepas ou subtipos, ou mesmo de variantes desses subtipos, há preocupação em relação à maior facilidade de transmissão, se levam a quadros mais graves e de evolução mais rápida e se podem ser resistentes aos medicamentos atualmente disponíveis. No caso da VB, a evolução para a aids pode ser mais rápida após o diagnóstico, principalmente em pacientes mais idosos, mas mantendo resposta adequada aos tratamentos atuais”, aponta Dr.ª Lenice.
Os primeiros estudos sobre a VB mostram que não houve evidências de resistência ou resposta pior ao tratamento com os medicamentos. “Como já tem sido orientado nos últimos anos, estas pesquisas indicaram também que, quanto mais precoces são o diagnóstico e tratamento, melhores são as respostas terapêuticas e a evolução do paciente. Infelizmente, ainda são realizados, no Brasil, muitos diagnósticos tardios do HIV, quando o indivíduo já evoluiu para um estágio mais avançado da doença. É preciso que as campanhas de orientação, voltadas para este sentido, sejam contínuas”, destaca.
Para contribuir com o diagnóstico precoce e rápido das doenças relacionadas ao HIV, Dr.ª Lenice, que também é Diretora Técnica do Serviço de Ambulatórios Especializados em Infectologia “Domingos Alves Meira” (SAEI-DAM), aponta como o Serviço ajuda as pessoas que se expuseram ao risco de se infectar com o vírus e acompanha os pacientes durante todo o tratamento. “Nós orientamos e fazemos os diagnósticos da infecção pelo HIV o mais precocemente possível para que o tratamento seja também iniciado em período muito curto. Da mesma forma, é preciso fazer rapidamente o diagnóstico de não resposta à terapia, com realização, sempre que indicado, de exames para identificação de mutações de resistência aos medicamentos utilizados e trocas de esquemas no prazo mais breve possível”, encerra.
Sobre o SAEI-DAM
O serviço tem a finalidade de prestar assistência multidisciplinar e interdisciplinar aos pacientes com HIV/Aids, hepatites crônicas por vírus B e C, indivíduos com infecção pelo HTLV – I/II, indivíduos vítimas de acidentes (ocupacionais ou sexuais) com risco biológico de contrair infecções pelos mesmos agentes etiológicos.
A equipe de especialistas do SAEI-DAM oferece a estes pacientes confirmação diagnóstica, avaliação do estado de saúde e o tratamento medicamentoso específico das doenças. A atenção aos pacientes também tem foco nos distúrbios psicológicos, psicopatológicos e comportamentais decorrentes da discriminação e preconceito, especialmente para os pacientes com HIV/Aids.
Por – Maíra Masiero