Censo do IBGE revela que cresce em Botucatu o número de pessoas “sem religião”

De acordo com a estimativa feita em 2024, Botucatu tem 150.442 habitantes, dos quais 8% responderam não ter prática religiosa, ou seja, pouco mais de 12 mil pessoas 

Gesiel Júnior

Especial para a Tribuna de Botucatu

Nem é a redução do número de católicos a maior revelação dentre os dados do Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O que, de fato, chama a atenção é o crescimento do número do percentual de pessoas que se declaram “sem religião” em todo o país e também em Botucatu, cuja origem tem a ver com aspectos religiosos do catolicismo.

De acordo com a estimativa do IBGE feita em 2024, Botucatu tem 150.442 habitantes, dos quais 8% responderam não ter prática religiosa, ou seja, pouco mais de 12 mil pessoas. Neste grupo estão incluídos ateus, agnósticos e pessoas que não pertencem a nenhuma denominação religiosa, cristã ou não. Deles, a maioria é masculina e jovem.

Com 50,5% de católicos (75 mil), 32,4% de evangélicos (48 mil), 2,3% de espíritas (3.500), 1,2% de umbandistas e do candomblé (1.800), outros 5,4% (8 mil) disseram em Botucatu ter outras práticas religiosas e 0,2% (300) nada declararam sobre o tema para os recenseadores.

No município nenhum padre, pastor ou líder religioso comentou espontaneamente esses números, embora o dado revelado possa interpelar católicos e evangélicos, assim como outras denominações religiosas. Afinal, os indicadores dos que se declaram “sem religião” necessitam ser melhor definidos e contextualizados.

Em outras localidades da região a tendência é semelhante. Exemplos: em Avaré, 6,5% se dizem sem religião, em Laranjal Paulista (6,6%), em Lençóis Paulista (5,7%), em São Manuel (4,8%), em Conchas (4,7%) e em Itatinga (3,6%).

 “Privatização” da religião

Dentre os ministros religiosos, o de maior importância a se pronunciar a respeito foi o arcebispo de Salvador, cardeal Sérgio da Rocha. “As pessoas que se declaram ‘sem religião’ devem ser tratadas com o devido respeito pelos praticantes das diversas religiões, pois a dignidade das pessoas é incondicional, mas os dados constatados exigem a devida atenção das igrejas e das outras confissões religiosas”, ponderou

“Provavelmente, dentre os que assim se apresentam, há quem não assuma pertença a igrejas ou fé explícita, mas tenha algum tipo de prática religiosa, embora sem vínculo institucional”, afirmou dom Sérgio, apontando ser preciso considerar também o fenômeno da “privatização” da religião, “tendência crescente no mundo contemporâneo, em que as pessoas fazem suas escolhas religiosas e adotam práticas segundo as suas preferências”.

A propósito, o arcebispo apresentou algumas questões: “O que significa declarar-se ‘sem religião’? Quais os fatores que levam a declarar-se assim? Como veem as religiões?”. Para ele, “o panorama religioso precisa ser bem compreendido, pois não se reduz a números, mas se refere a pessoas concretamente existentes, com suas angústias e esperanças”.

Arcebispo de Salvador, cardeal Dom Sérgio da Rocha: religião está sendo praticada de forma privatizada