COLUNISTA

04/10/2020
DECEPÇÃO

Fiquei algum tempo sem escrever. Aliás, não me lembro de ficar tanto tempo sem publicar algum artigo. Não sei se há algum motivo especial para essa ausência. Talvez seja porque não tivesse mesmo algum assunto relevante para comentar. Talvez seja porque não tivesse visto utilidade alguma em transmitir alguma opinião. Talvez seja para evitar a repetição, dizer o já dito dezenas de vezes. Mas talvez seja pela decepção que tive nessas semanas. Sim, decepção. Decepcionado com o ser humano. Infelizmente, notei que o ser humano não é solidário e, por paradoxal que pareça, não é humano. Ainda bem que há relevantes exceções. Mas a maioria é egocêntrica, individualista, oportunista, mesquinha. E os mais perigosos são aqueles que colocam uma máscara de bonzinhos, para espalharem o seu fel, o seu veneno.

No começo da pandemia, escrevi que esse período poderia levar as pessoas a uma reflexão mais profunda sobre a nossa função na sociedade, para que ela se torne melhor. Ledo engano. Esse período serviu para revelar o que há de mais perverso no ser humano. O prazer com que a mídia apresenta culpados é terrível. Parece não ser importante que haja pessoas morrendo porque a doença ainda não tem cura. Parece não ser importante o que os mais preparados estão fazendo para encontrar uma vacina eficiente. Parece não ser importante o que está ocorrendo com uma sociedade desempregada, que perdeu suas condições econômicas e a possibilidade de se sustentar com a força de seu trabalho. Parece não ser importante o que os mandatários estão fazendo para evitar um colapso daqueles que têm menos condições. O importante parece ser o alarde ao número de mortos e a procura de culpados. Para pessoas insensíveis, têm que existir culpados. E para essas pessoas, tudo é motivo para se encontrar um culpado. Como se houvesse culpados pelas mortes. Então há culpados no mundo inteiro, pois estão morrendo pessoas no mundo todo.

Lamentável. Fico imaginando quantos culpados serão denunciados nessa campanha eleitoral. Fico imaginando como será o nível dessa campanha. Com certeza, será uma briga de foice no escuro. Vai haver gente atirando às cegas e procurando culpados. E a gente não evoluirá absolutamente nada.

Fui infectado pelo coronavírus. Fui atendido, primeiramente, pelo pessoal da prefeitura e, depois, por médicos particulares. Fui medicado bem no início da doença. Eu e minha mulher. E seguimos todos os protocolos. Assim mesmo, fomos infectados. Não fiquei culpando ninguém. Só me preocupou a cura. Hoje está tudo normal. Todos os sintomas desapareceram e voltei a ter uma vida normal. Normal? Bem, dentro das possibilidades de uma pandemia, normal. Estou trabalhando, estou vivendo.

Não há culpados. Há uma realidade. E é uma realidade cruel. Perigosa. As pessoas ainda não sabem direito o que é isso. Todos dão palpites. Parece torcida de futebol: uns torcem a favor, outros torcem contra. Todos deveriam torcer a favor das pessoas que estão procurando uma solução. E essas pessoas também estão aprendendo sobre a doença. Ninguém é especialista em coronavírus. É assim que a gente colabora: seguir as orientações das pessoas que sabem mais e torcer para que uma vacina seja encontrada.

                                                                                                          BAHIGE FADEL


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