COLUNISTA

26/03/2020
Confinamento social

Demorei para escrever esta crônica. Precisei preparar-me para a nova realidade. Tenho setenta e três anos e, por isso, faço parte do grupo de risco. Não bastasse minha responsabilidade e, principalmente, a de minha mulher, meus filhos estão fazendo marcação rigorosa, não nos dão folga. Fico até satisfeito com isso, pois demonstram que estão preocupados com os pais.

Não sei se está havendo exageros ou não. Sei que há pessoas que entendem mais do assunto, pessoas que entendem menos e pessoas que nada entendem. Esta é a hora de deixarmos as pessoas que entendem mais decidirem. Cabe a nós respeitar e colaborar. É o que estou fazendo. Não é hora de tirar vantagem política, não é hora de se posicionar como oposição ou como situação. É hora de se posicionar a favor da saúde. Da saúde minha e da saúde dos outros. Os governantes devem usar todos os meios e recursos, para diminuírem os problemas que já existem e os que, fatalmente, existirão. E não cabe à situação ou à oposição subir no palanque para fazer discursos. Isso tem que ficar para outra hora. Agora é a hora de evitar os males do coronavírus, depois resolver os problemas econômicos e sociais, que serão muitos.

Enquanto alguns políticos ficam se chutando em público, para demonstrar força, felizmente, há muita gente ajudando. Ontem, fui à vacinação da gripe. Estava pensando ficar umas duas horas na fila. Nada disso. Fiquei dois minutos. Tudo muito bem organizado e com um atendimento perfeito. O secretário da saúde estava presente para supervisionar. Estes colaboram. Hoje tive que ir ao correio para enviar um Sedex. Tive que ficar numa fila, na parte de fora. Dois funcionários atendendo gentilmente e com todo o cuidado. Em dez minutos já tinha sido atendido, sem nenhum aglomerado e nenhum perigo de contágio. Estes também colaboram. Algumas pessoas vi nas ruas. Todas elas faziam alguma coisa. Ninguém estava só passeando. Estes também colaboram.

Estou com saudade das aulas presenciais. Estou cansado de elaborar material para os alunos. Não me sinto bem. Preciso da presença dos alunos, para perceber se estão aprendendo ou se estão com algumas dificuldades. Tento preparar o material e os exercícios da maneira mais didática possível. Mas não é a mesma coisa. Nestas aulas, sou eu escrevendo o que sei; naquelas, sou eu vivendo com os alunos a arte da literatura. Nestas, não há arte alguma, não dá pra transmitir a sensibilidade do poeta ou do romancista ou do contista. ‘Eu sem você sou barco sem mar, sou campo sem flor’. Se escrevo isso, só escrevo isso. Se digo isso para os alunos, transmito arte, sensibilidade, o que sentiu o poeta ao separar-se da pessoa amada.

Mas a gente aguenta. O ditado diz que não há mal que sempre dure. Que dure pouco. E que produza para o mundo pessoas melhores e mais solidárias.

                                                           BAHIGE FADEL


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