COLUNISTA

22/09/2020
A tragédia anunciada de Le Mans

Foto - Divulgação

A maior tragédia da história do automobilismo, aconteceu num bonito dia de sábado, 11 de junho de 1955. Naquele dia, no circuito de Le Mans na França, o carro de Pierre Levegh, bateu violentamente contra o asfalto do circuito e os destroços atingiram diretamente o público que assistia a prova, matando 83 pessoas e o piloto na hora e deixando um saldo de 183 feridos. Esta é considerada pela história, a maior tragédia do automobilismo.

Em 1955 a Fórmula 1 ainda engatinhava e não tinha o peso que tem hoje. As provas de resistência, eram as mais populares da época, e as montadoras, faziam questão de participar das mesmas, pois vitórias difíceis, eram sinônimos de venda de carros no dia seguinte.

Muitos pilotos da Fórmula 1 participavam dessas provas, com objetivo de consagrarem seus nomes no hall da fama e serem respeitados no meio automobilístico.  Com todos esses ingredientes e a Europa ainda se reerguendo da segunda guerra mundial, o povo via nas corridas, uma opção mais que certa de diversão. As 24 horas de Le Mans era a prova mais tradicional da época e facilmente levava de 150 a 200 mil espectadores no circuito.

O problema é que naquele tempo, não existia preocupação com o quesito segurança e muitos ficavam nas arquibancadas, próximos demais da pista e sem as proteções necessárias. Foi nesse clima de pura emoção e nostalgia, que a prova daquele ano (1955), contava com estrelas do automobilismo como Luigi Musso, Stirling Moss, Phil Hill e principalmente o grande nome da Época Juan Manuel Fangio.

Quando a largada foi dada, todos os pilotos correram para seus carros que estavam parados estacionados (era assim mesma a tradição) e ao entrarem nos mesmos, já começaram a correr. Vale deixar claro que esta prova reunia pilotos experientes e outros nem tanto. Porém, por pura ironia do destino, os três carros envolvidos na tragédia, eram pilotados pelos mais experientes profissionais da época.

O acidente ocorreu na volta 35. Mike Hawthorn, com 4 temporadas na Fórmula 1 e pilotando um Jaguar, foi chamado para entrar nos boxes, quando estava próximo a eles. Ele liderava a prova naquele momento. Atrás de Hawthorn, vinha Lance Macklin (retardatário), também com larga experiência na Fórmula 1. Hawthorn diminuiu a velocidade, pegando de surpresa Macklin que não esperava que seu colega fosse entrar e percebendo que iria bater na traseira do Jaguar de Hawthorn, desviou bruscamente para a esquerda. Nessa hora estava passando em alta velocidade Pierre Levegh, piloto da Mercedes e com larga experiência em Le Mans com duas temporadas na Fórmula 1.

A 260 km/h, Levegh não conseguiu desviar do carro de Macklin e bateu na lateral do mesmo, decolando em seguida. Estava selada a tragédia. O carro de Levegh com o impacto deu uma pirueta no ar e bateu violentamente contra o asfalto explodindo em seguida. Com a explosão, pedaços do veículo foram projetados como balas de canhão contra a plateia, matando 83 espectadores, muitos decapitados. Além do público, Levegh também morreu.

A grande estrela do automobilismo da época Juan Manuel Fangio, nunca negou que Pierre Levegh salvou sua vida, pois antes de bater no carro de Macklin, ainda sinalizou para Fangio que vinha logo atrás, dando tempo numa fração de segundos, do argentino tomar alguma atitude decisiva e não se envolver no acidente.

Choro, desespero, gritos de horror e muito sangue, dominaram a cena naquele momento. O que impressiona, foram as decisões e atitudes tomadas logo após o acidente. A corrida não foi interrompida e seguiu seu curso normal até o fim, tendo como vencedora o Jaguar do próprio Mike Hawthorn, diretamente envolvido com o acidente, mas salvo pelas circunstâncias.

No pódio, Hawthorn abriu um champanhe e comemorou como se nada tivesse ocorrido. Ficou famosa sua foto sorrindo com a garrafa de bebida na mão. Anos depois o argumento utilizado pela direção da prova é que a corrida não tinha sido interrompida por receio, pois o público poderia fazer uma evacuação em massa e mais acidentes eventualmente aconteceriam nas estradas em torno do circuito. Sobre Hawthorn e sua atitude pouco convencional, se argumentou que nem ele mesmo tinha noção do tamanho da tragédia.

Depois de 1955 a Mercedes, equipe de Pierre Levegh, se retirou das principais provas automobilísticas, retornando a Fórmula 1 como fornecedora de motores, apenas no ano de 1994. Como equipe, a montadora alemã só apareceu em 2010 e até então é super vitoriosa com Lewis Hamilton, Niko Rosberg e Valtteri Bottas.

A história do automobilismo ficou manchada de sangue após a tragédia de Le Mans. As atitudes que foram tomadas no dia do acidente foram as piores possíveis e pegaram muito mal diante da imprensa e nação europeia, que tinha acabado de sair de uma guerra cruel e sangrenta. A tragédia foi tão feia, que na Suíça até pouco tempo atrás, corridas automobilísticas estavam proibidas. Esse protocolo foi criado depois do acidente de Le Mans e só foi quebrado, recentemente, com a participação da Fórmula E no país.

Mike Hawthorn morreu aos 29 anos num acidente de carro, quando não era mais piloto e tinha acabado de pedir sua aposentadoria com carros de corrida. Deixou como saldo 3 vitórias na Fórmula 1 e, ironicamente, 1 única vitória na prova de Le Mans, justamente no dia do desastre. Lance Macklin morreu com 82 anos na cidade de Kent, Inglaterra. Sua carreira na Fórmula 1 inclue 15 Grandes Prêmios, sem êxitos, entre os anos de 1952 a 1955. Após a tragédia ele decidiu abandonar o esporte. Pierre Levegh morreu com 49 anos. Deixou como piloto, 6 corridas disputadas na Fórmula 1, tendo como melhor resultado um sétimo lugar no GP da Bélgica de 1950 e um quarto lugar nas 24 horas de Le Mans de 1951.

 

César Júnior

 


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