COLUNISTA

29/09/2020
As leis políticas das pistas

O erro cometido por Lewis Hamilton antes da largada do GP da Rússia faz com que possamos refletir que, até mesmo os grandes campeões, são imperfeitos como nós. Antes do início da prova russa, o inglês fez dois treinos de largadas em locais considerados proibidos pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e pagou com 10 segundos acrescidos em sua parada nos boxes (5 segundos por cada treino) e dois pontos retirados na sua superlicença (uma espécie de habilitação especial que todo piloto de Fórmula 1 é obrigado a ter).

No final da tarde de domingo, a FIA resolveu retirar a punição dos dois pontos na superlicença de Hamilton e reverteu a punição numa multa de 25 mil euros à Mercedes, por entender que a equipe alemã teve uma parcela de culpa no episódio. Bem diferente do que ocorreu com Hamilton na Rússia, o maior ídolo do piloto inglês, Ayrton Senna, uma vez foi incriminado pela própria FIA, por um erro que nunca cometeu, o que comprova que existe uma política suja por trás dos motores potentes das pistas.

No GP do Japão de 1989, Senna e Prost travavam uma batalha dura pelo título e ambos os pilotos chegaram a Suzuka, com Prost em vantagem. Se Senna não conseguisse a vitória, Prost seria campeão mundial. Na volta de número 47, Senna tenta uma ultrapassagem em cima de Prost. O francês desvia o carro levemente para a direita, os dois batem e são arrastados para uma área de escape do circuito.

Naquelas condições Prost seria o campeão. Mas Senna usa um caminho, até então considerado normal por uma chicane, vai aos boxes, os mecânicos trocam o bico do carro, e Senna, sendo Senna, volta as pistas, e a duas voltas do final ultrapassa Alessandro Nannini, até então líder, vence a prova, adiando a decisão do campeonato para a Austrália (naquela época o continente australiano fechava a temporada). Prost inconformado com a recuperação de Senna, foi até a sala de comissários e totalmente protegido pelo presidente da FIA na época, Jean Marie Balestre, inventaram que o piloto brasileiro cortou uma área proibida para sair da chicane e desclassificaram Senna, dando a Prost o título mundial.

O que ocorreu em seguida foi um absurdo dos absurdos. Balestre multou Senna, tirou pontos em sua superlicença e ainda suspendeu o brasileiro. Ayrton ficou revoltado e numa entrevista depois, chegou a dizer que foi tratado como um "criminoso" pelo que ocorreu. Balestre, anos depois, já fora da presidência da FIA, admitiu que favoreceu o compatriota Prost na decisão. Confesso que fiquei preocupado com a revolta de Hamilton sobre a decisão dos comissários da prova depois de sua punição, chegando a chamar a mesma de "ridícula".

Aparentemente a política dentro da Fórmula 1, está muito mais disfarçada e pouco se mostra aos olhos do mundo. Mas infelizmente ela existe. Será que Hamilton, mesmo errando e sendo induzido ao erro, não foi um pouco vítima de uma decisão mais dura? De repente, pagar com 10 segundos nos boxes já estaria de bom tamanho. Precisavam, naquele momento, retirarem dele 2 pontos da superlicença? Nós sabemos que depois voltaram atrás dessa decisão, mas mesmo assim, na hora, me pareceu dura demais.

Hamilton é negro e luta por justiça aos negros. É uma figura mais que influente no mundo esportivo e as vezes parece que seus posicionamentos incomodam. Posições duras e radicais dos bastidores, sempre levantam suspeitas da idoneidade dos cartolas. E num primeiro momento, uma punição extrema como esta que foi tomada de tirarem seus pontos na superlicença, não pegou bem, não foi para tanto. Hamilton com certeza absoluta vai igualar o recorde de vitórias de Schumacher.

É só uma questão de tempo. Basta saber se isso irá acontecer em terras alemãs no próximo GP, ou se os cartolas acharem um "pelo em ovo" para adiar essa festa. Querendo ou não sou obrigado a fazer essa pergunta. Quem sabe melhor lidar com a política dentro do mundo da velocidade? Hamilton ou Schumacher? A reposta será dada dia 11 de outubro em Eifel.

César Júnior


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