COLUNISTA

27/10/2020
Uma análise do efeito Hamilton

Foto - Divulgação

Lewis Hamilton conseguiu! Agora, ele é o piloto com maior número de vitórias da história da Fórmula 1 e Michael Schumacher fica com o segundo posto. A partir da próxima corrida, todas as vitórias que o supercampeão inglês obtiver, servirão apenas para distanciar essa marca histórica e tornar o recorde mais difícil de ser batido.

Concordo com Cleber Machado, que no final da transmissão do grande prêmio português, disse que somos privilegiados por assistir esse momento único. Algumas pessoas tem o costume de fazer comparações. Muitos estão comentando que os tempos são outros e que se Hamilton fosse piloto na época de Senna e Prost, provavelmente não chegaria perto dessa marca.

Eu, particularmente, não gosto desse tipo de dedução, pois parece que fechamos um muro em volta dos grandes ídolos do passado e damos a entender que esse muro é intransponível. Se fosse assim, cada recorde batido nas olimpíadas deveria ser minimizado em detrimento dos superatletas do passado. Acho que cada piloto viveu sua época e dentro do período de atuação, eram os melhores no que faziam. Evolução é evolução.

Detesto as músicas atuais e acho que os sucessos de agora são ridículos e pífios em relação aos nossos ídolos do passado. Qualquer artista atual, não chega aos pés de Elvis Presley, Bee Gees, The Beatles e tantos outros. A música de agora perdeu qualidade, ritmo, poesia, técnica e muitos outros quesitos, que transformaram a mesma em lixo sonoro, tal qual conhecemos. Mas, existe público pra ela. Pra juventude atual, dentro de sua época, os artistas de hoje são os melhores no que fazem. Mesmo nós sendo obrigados a engolir o que a mídia impõe, estamos vivendo em nova época, novo século e convivendo com novas ideias.

Querendo ou não, a organização do Rock in Rio entendeu que Anitta deveria tocar no evento. E por mais que não suportamos essa situação, pois sabemos que esta mulher não tem nada a haver com rock, somos obrigados a engolir que ela foi um sucesso no dia da sua apresentação. Fazer o quê? Coisas da atualidade, pois como disse, evolução é evolução.

Da mesma maneira é a Fórmula 1. Dá pra você comparar os grandes ídolos do passado com os atuais pilotos de agora? Lógico que não. É claro que Juan Fangio, Fittipaldi, Clark e tantos outros, foram mais pilotos que Prost, Mansell e Lauda. E é óbvio que os pilotos atuais, não chegam aos pés dos seus contemporâneos. Mas não podemos deixar de valorizar seus méritos. Se Hamilton não tivesse talento, nunca chegaria onde chegou.

Só para lembrar, Fernando Alonso ainda é considerado um dos últimos gênios da categoria. Porém, numa equipe fraca e sem investimentos na época, fez feio e teve uma temporada muito aquém do esperado sem resultados expressivos. Se Alonso tivesse uma máquina à altura de seu talento, provavelmente teria se dado melhor. Eu creio que não devemos minimizar o grande campeão mundial e agora o maior de todos. Hamilton sabe como ninguém ser o melhor no que faz.

Não adianta ficar perdendo tempo com comparações. Senna, Prost, Piquet e Lauda, eram os melhores ao seu tempo. Mas agora a tecnologia é outra. O carro atual de Fórmula 1 (pra quem é piloto) deve ser bem mais fácil de manejar que os antigos carros dos anos 90. E com certeza os carros dos anos 90 eram bem melhores tecnicamente falando que os carros anos 70 e assim por diante. Cada um no seu tempo. Cada um no seu quadrado.

Parabéns Hamilton, você agora é o maior de todos. Você é o melhor de uma geração que não viu Ayrton Senna ganhar uma corrida com duas marchas no carro e com certeza não sabe que um dia, esse mesmo piloto brasileiro, ultrapassou quatro opositores em uma única volta, com chuva e com a FIA dizendo dias antes que queria acabar com o GP de Donington, por que não tinha pontos de ultrapassagens.

É lógico que Hamilton merece todas as honras, pois chegou onde ninguém conseguiu. Mas não podemos esquecer que o homem que teve 91 vitórias na Fórmula 1, é um alemão que surgiu numa época mais complicada e estava atrás de Senna naquele fatídico 1 de maio de 94 em San Marino, onde sofreu um acidente fatal, depois que os cartolas resolveram tirar toda parte eletrônica que deixava o carro estável, com desculpa de economia.

Prova que Schumacher veio de uma escola muito mais difícil e complicada que Hamilton. Sem méritos não existem vitórias. Sem vitórias não existem méritos. É um ciclo vicioso, mas perfeito, que melhor explica o fenômeno Hamilton e seu mais novo recorde. Basta agora tentar imaginar e indagar. Será que no futuro, com novas tecnologias e carros mais desenvolvidos eletronicamente outros pilotos vão chegar onde o inglês chegou?

Provavelmente não estaremos vivos até lá para saber. Mas uma coisa é certa. Se daqui uns 30 anos outro piloto conseguir essa façanha que Lewis conseguiu, posso garantir que muitos irão dizer que o mesmo não se pode comparar com Hamilton. São vícios e defeitos humanos, que infelizmente carregamos em nosso DNA.

César Júnior


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