COLUNISTA

09/11/2020
O Campeonato de Cara Pintada

Foto - Divulgação

É muito complicado você tentar defender uma ideologia por, simplesmente, gostar do que se está defendendo. É bem mais complexo e difícil tentar provar, que seu gosto é bacana e sua luta por estar ao lado de seus ideais não é inglória. Por que estou escrevendo isto? Simplesmente por que a paixão pelo automobilismo está ficando cada vez mais complicada de convencer outras pessoas. Durante muitos anos, tivemos disputas duras e campeonatos extremamente competitivos, que enchiam nossos olhos.

Nos anos 60, por exemplo, houve uma época que cada ano tínhamos um campeão. Em 60 Jack Brabham, 61 Phil Hill, 62 Graham Hill, 63 Jim Clark e 64 Jonh Surtees. Esta sequência só foi quebrada em 65 com outro título de Jim Clark. E foi sempre assim. Os campeões e escuderias se revezavam constantemente e sempre tinha aquele suspense.

Quem vai levar a taça? O modernismo e tecnologia trouxe uma nova realidade a Fórmula 1 e hoje somos obrigados a conviver com resultados óbvios e campeões com rostos conhecidos. Tudo começou no início do século. Michael Schumacher teve uma sequência fantástica, mas, infelizmente, sonolenta pra quem não é tão apegado assim ao automobilismo, de 5 campeonatos seguidos. Ou seja, fomos de 2000 a 2004 se acostumado com a ideia, que aos domingos veríamos o carro vermelho da Ferrari no ponto mais alto do pódio e o hino alemão sendo executado no final. Depois foi a época de Sebastian Vettel, outro alemão extremamente competente. Foram 4 campeonatos seguidos, de 2010 a 2013 que as cenas sempre eram as mesmas.

Foi então que a partir de 2014 se passou a cultuar as cores prateadas da Mercedes, uma competente montadora alemã, que inacreditavelmente vem a longos 6 anos dominando como ninguém os campeonatos com Hamilton, só quebrado em 2016 por Rosberg, mas mesmo assim piloto Mercedes. E alguém tem dúvidas que Hamilton será campeão outra vez? Eu pelo menos não tenho nenhuma. Infelizmente chega-se s triste, mas real conclusão, que o excesso de competência acaba cobrando o preço.

Apesar de a Fórmula 1 ter fãs pelo mundo, o número de pessoas que estão ficando frustradas com os resultados óbvios das pistas, está crescendo assustadoramente. É complicado, mas em 2018 e 2019 Hamilton ganhou 11 vezes cada ano. Ou seja, são 22 vitórias em 42 corridas. É muito óbvio para uma categoria que tinha fortes emoções no passado. Em 1985, por exemplo, Alain Prost foi campeão mundial vencendo apenas 5 corridas num total de 16. Ayrton Senna ganhou 6 provas num total de 16 para sagrar-se campeão mundial em 1990. Houve campeonatos como o de 1982 que Keke Rosberg foi campeão mundial (pasmem!) com apenas uma única vitória em 16 corridas do campeonato. Era muito mais, digamos, "pau a pau" em comparação aos dias atuais.

Este é o motivo que alguns saudosistas como eu, sempre levantarmos dúvidas se a Fórmula 1 vai continuar forte como antigamente. As coisas estão se complicando. A partir do próximo ano as transmissões das corridas em TV aberta estão correndo seríssimos riscos de não acontecerem, pois a rede Globo, devido à situação atual, perdeu o interesse e não vai transmitir mais. Estamos sem brasileiros há algum tempo na categoria e pior, não há perspectiva de algum nome para 2021. Muitos patrocinadores estão perdendo o interesse na categoria, pois é muito óbvio os resultados dos domingos.

A Federação Internacional de Automobilismo (FIA) está procurando desesperadamente uma solução urgente já para a próxima temporada. Uma saída de emergência foi encontrada, quando os cartolas da Liberty chegaram a um consenso, limitando o teto das equipes, numa tentativa desesperada de igualar a engenharia dos carros, forçando um maior equilíbrio entre as equipes. Confesso que do modo que está, fica difícil realmente.

Se Hamilton voltar a dominar todas as provas no próximo ano, mais pessoas podem perder o interesse e o caos pode começar a desencadear uma crise profunda. Alguém precisa desesperadamente "bater de frente" com Hamilton. Não importa se Leclerc ou Verstappen, mas alguém tem que causar problemas ao piloto inglês na próxima temporada, senão o campeonato ficará pintado novamente com as cores inglesas em tons alemães e infelizmente essas cores podem significar o tom preto da derrota, num futuro bem próximo.

César Júnior


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