COLUNISTA

31/08/2020
A FRIEZA DOS NÚMEROS

                                                                                Texto do Professor João Carlos Vieira (*)

Faz já alguns dias que estou pensando em escrever algumas coisas sobre a percepção das pessoas com relação aos números da Covid 19. Me parece que, à medida que o tempo foi passando, desde o mês de março até agora, os números divulgados dia após dia, sejam eles de casos ou de óbitos, foram perdendo sua capacidade de impactar as pessoas. A incrível capacidade do ser humano em se adaptar, em se acostumar, foi fazendo com que a doença e a morte passasse a ser algo “imponderável”, do tipo “não há o que fazer”.

Se lá no começo 5 ou 10 mortes nos entristeciam a todos, hoje eu tenho a impressão que as 1000 ou perto disso de pessoas mortas por dia, passaram a fazer parte do nosso cotidiano. Isso me entristece demais. Estamos esquecendo que, por mais que queiram nos fazer enxergar apenas números, são pessoas como nós, de famílias como as nossas, com filhos ou pais como os nossos, com anseios e expectativas como as que nós alimentamos, que estão indo embora. E o mais assustador, gente, é que esses números, com a frieza que os caracterizam, estão a querer nos dizer outras coisas, coisas que, para alguns, pode parecer “catastrofismo” de minha parte. Mas não é.

Se é para focar em números, então vamos lá, sempre com o foco em nossa cidade. A taxa de letalidade em Botucatu, até ontem, era de 1,67 óbitos, ou seja, do total de contaminados, 1853, 1,67% vão à óbito. É uma taxa baixa, se comparada com as de outras cidades, com o nosso estado ou mesmo com o Brasil. Glória a Deus por isso!

Mas, considerem agora que, com base nessa relação, a cada grupo de cerca de 60 pessoas que foram infectadas em Botucatu, uma faleceu. Hoje, o número de casos ativos aqui é de 230 pessoas – 203 em isolamento domiciliar e 27 internadas. Isso significa (Deus queira que eu esteja errado) que, se a pandemia parasse hoje e ninguém mais fosse contaminado, ainda assim, 4 pessoas estariam fatalmente condenadas à morte.

Estarrecedor mas real. Será que agora os números não importam mais? Infelizmente, parece que nem mesmo essa simples equação será capaz de fazer os incrédulos ou os negacionistas mudarem de conduta e entenderem, de uma vez por todas, que não estamos vivendo uma simples aventura. A coisa é séria. Alertados, todos estão sendo.

As consequências desse relaxamento são conhecidas – mais casos = mais mortes. É assustador ver os jornais e os sites de notícias de Botucatu, a todo momento, informando sobre enormes aglomerações (que no momento é o principal vetor de propagação do vírus) acontecendo aqui e ali, como se não houvesse amanhã. Ou pessoas já contaminadas “furando” o isolamento e saindo de suas casas para dar uma voltinha.

A constatação é a seguinte: ou nos salvamos todos juntos ou dias piores virão, até que a verdadeira cura, através da vacina, chegue até nós.

CHEGA DE AGLOMERAÇÕES! CHEGA DE FESTAS E BALADAS! EXISTEM VIDAS A SEREM PRESERVADAS! A MINHA E A DE CADA UM DE NÓS!"

 

(*) O professor João Carlos Veira escreveu este texto com o coração e com a mente! A indignação diante da rotinização, banalização e mesmo do negacionismo de uma crise sanitária mundial sem precedentes, que aqui no Brasil está pintada com cores mais sombrias e se arrasta de modo agoniante (diferentemente de TODOS demais países do mundo). BOA PARCEIRO!


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