E agora, João?
A festa acabou,
a luz vermelha acendeu,
o povo nas ruas sem máscara,
e agora, João?
e agora, você?
Muita gente nunca quis imaginar que a coisa chegasse a esse ponto na nossa terra dos bons ares, das boas escolas e dos bons serviços de saúde!
Compare o número de CASOS NOVOS ocorridos NA ÚLTIMA SEMANA, em Botucatu, no estado e no Brasil (tudo ajustado por 100 mil habitantes). Estes são os dados. FALA SÉRIO, JOÃO! Até você, que fez tantos alertas, acreditava que chegaríamos a esta calamidade?
Muitos dados apontavam para isso. Mas as pessoas, no afã de abandonar as normas de PREVENÇÃO, preferiam se iludir com "desculpas":
"Tá subindo em todo lugar..." (compare os números e responda: E agora, João?)
"É que tão fazendo muitos testes rápidos no Cardosinho..." (pararam de fazer antes do Natal... E agora, João?)
"E o metrô lotado? E a Praia Grande cheia de gente, pode? Em Marília e Manaus tá bem pior" (Pois é, João, a velha mania de justificar seus erros se comparando com os piores. E agora, João?)
Isto chama FALTA DE PREVENÇÃO: afrouxamento ou abandono do uso de máscaras e do distanciamento; bares, baladas, campinhos e comércio lotados; festinhas de amigos e parentes; falta de fiscalização e educação sanitária...
Por sorte e muito trabalho temos uma boa retaguarda de atendimento para os que adoecerem e agravarem.
Resta perguntar "E AGORA, JOÃO?
PS: Inspirado Carlos Drummond de Andrade e seu famoso
poema "JOSÉ" (conhecido como "E agora, José?")
JOSÉ
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?