COLUNISTA

10/01/2021
“E AGORA, JOÃO?" (uma homenagem ao Professor João Carlos Vieira)

E agora, João?

A festa acabou,

a luz vermelha acendeu,

o povo nas ruas sem máscara,

e agora, João?

e agora, você?

Muita gente nunca quis imaginar que a coisa chegasse a esse ponto na nossa terra dos bons ares, das boas escolas e dos bons serviços de saúde!

Compare o número de CASOS NOVOS ocorridos NA ÚLTIMA SEMANA, em Botucatu, no estado e no Brasil (tudo ajustado por 100 mil habitantes). Estes são os dados. FALA SÉRIO, JOÃO! Até você, que fez tantos alertas, acreditava que chegaríamos a esta calamidade?

Muitos dados apontavam para isso. Mas as pessoas, no afã de abandonar as normas de PREVENÇÃO, preferiam se iludir com "desculpas":

"Tá subindo em todo lugar..." (compare os números e responda: E agora, João?)

"É que tão fazendo muitos testes rápidos no Cardosinho..." (pararam de fazer antes do Natal... E agora, João?)

"E o metrô lotado? E a Praia Grande cheia de gente, pode? Em Marília e Manaus tá bem pior" (Pois é, João, a velha mania de justificar seus erros se comparando com os piores. E agora, João?)

Isto chama FALTA DE PREVENÇÃO: afrouxamento ou abandono do uso de máscaras e do distanciamento; bares, baladas, campinhos e comércio lotados; festinhas de amigos e parentes; falta de fiscalização e educação sanitária...

Por sorte e muito trabalho temos uma boa retaguarda de atendimento para os que adoecerem e agravarem.

Resta perguntar "E AGORA, JOÃO?

 

PS: Inspirado Carlos Drummond de Andrade e seu famoso

poema "JOSÉ" (conhecido como "E agora, José?")

JOSÉ

E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, você?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama, protesta?

e agora, José?

Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José?

E agora, José?

Sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio — e agora?

Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora?

Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse…

Mas você não morre,

você é duro, José!

Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, José!

José, para onde?


CURTA NOSSO FACEBOOK

PREVISÃO DO TEMPO

© Tribuna de Botucatu todos os direitos reservados.