COLUNISTA

22/12/2019
Uma noite de gala do ministro Gilmar Mendes

Definitivamente, a noite de segunda-feira, dia 7 de outubro, foi muito triste à história do jornalismo brasileiro, com a apresentação do Programa Roda Viva, pela TV Cultura. O entrevistado da semana:  Gilmar Ferreira Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, nomeado pelo então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, assumindo uma das cadeiras da Corte em 20 de junho de 2002. Está lá (pasmem vocês) há mais de 17 anos, ininterruptos.

Programa foi apresentado pela jornalista Daniela Lima, tendo uma bancada de entrevistadores formada por Dora Kramer (Veja), Márcio Falcão (editor do site Vortex Media), Vera Magalhães (comentarista da Rádio Jovem Pan e colunista do jornal O Estado de S. Paulo e do site BR Político), Josias de Souza (colunista do UOL) e Eduardo Scolese (editor de Poder da Folha de S. Paulo).

Foi uma noite de gala de Gilmar Mendes. O ministro deitou e rolou. Fez e desfez. Estava à vontade. Tergiversou a seu bel prazer. Foi o dono do espetáculo televisivo. Cautela só no primeiro bloco. Nos demais foi se soltando, percebendo que podia ir cada vez mais longe.  E foi mesmo! Sempre buscando argumentos com temas jurídicos de difícil compreensão para a maioria da população. Desdenhou até de seus colegas quando questionado sobre votações polêmicas e infelizes do Supremo. Saiu pela tangente e usou o “olha, eu alertei isso, eu avisei aquilo”.

O ministro, literalmente, comandou a entrevista. Estava à vontade. Parecia que sabia que não seria colocado contra a parede, mesmo sendo ele o ministro mais detestável e questionável perante a opinião pública. O interessante é que horas antes da entrevista fez a maior propaganda de sua participação no programa.

“Hoje terei a honra de estar no centro do @rodaviva, um dos mais tradicionais programas de entrevista da televisão brasileira. A transmissão será a partir das 22h ao vivo pela @tvcultura e também pelo YouTube”, escreveu.

Não perdeu a oportunidade de atacar a Operação Lava-Jato e alfinetar o juiz e atual ministro Sérgio Morto.  Acusou a imprensa, de uma maneira geral, de compactuar com a operação que, segundo ele, teve mais erros do que acertos, torturando investigados, desrespeitando o processo penal, perseguindo ministros do Supremo e articulando um projeto político.  E mais: disse que o "lavajatismo militante" da mídia criou "falsos heróis". Deixou os entrevistadores com cara de paisagem, sem responder à altura ou, pelo menos, demonstrar indignação.

O engraçado, gente, é que a ampla maioria dos brasileiros dá a Sergio Moro a primazia de ser, atualmente, a pessoa de popularidade mais positiva no país, ao mesmo tempo em que vê Gilmar Mendes como uma das personalidades mais nefastas. O mesmo acontece com a Lava-Jato que tem ampla aprovação popular.

O pior de tudo foi quando disse que a fiscalização dos atos do Supremo é feita pela sociedade, como um todo. Meu Deus! Como ele pode dizer tamanha barbaridade? Dependesse da vontade popular, certamente ele não continuaria ministro. Esse cidadão já foi acusado de vender sentenças e apontado como “soltador contumaz” de corruptos de colarinho branco em decisões monocráticas e questionáveis. E nosso ultrapassado Código Penal Brasileiro permite interpretações diversas. Por isso, prende-se o ladrão do tostão e solta-se o ladrão do milhão.

Então, essa entrevista caiu como uma ducha de água fria na cabeça de muitos brasileiros. A minha entre elas. Mostrou, claramente, o poder supremo desse ministro. Imaginar a criação de uma CPI para que a Corte seja investigada não passa de um sonho de verão.  O interessante é que os ministros deveriam ser os primeiros a dar o exemplo para que fossem investigados. Do que têm medo? Que segredos ocultam?  Quem não deve não teme, viu Gilmar!

Mas criar uma CPI no Senado Federal para investigar ministros do Supremo, é algo improvável. Como os senadores que devem ser investigados podem investigar ministros que um dia poderão julgá-los? Por isso, os ministros vão continuar belos e garbosos, mandando e desmandando, aos olhos indignados da nação. Luz no fim do túnel? Não vejo!


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