COLUNISTA

31/03/2020
Entrevista dada por especialista da Unesp
sobre coronavírus causou grande celeuma

Não tenho procuração para defender quem quer que seja, mas quero me intrometer numa polêmica causada, que entendi como mal entendido, numa entrevista dada à Rádio Municipalista de Botucatu pelo médico infectologista e professor da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB), Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, sobre a possibilidade de mortes em Botucatu por causa do CODIV-19, o novo coronavírus. Por causa disso, o infectologista foi, no meu modo de ver, injustamente, muito criticado e ofendido nas redes sociais por aqueles que não entenderam o contexto do que foi dito.

Fortaleza é um dos maiores e mais respeitados infectologistas do Brasil, integrante do Comitê de Contingência para o COVID-19, no Estado de São Paulo e consultor sobre a doença para o Ministério da Saúde e da Organização Panamericana da Saúde. Não faria um comentário sobre o assunto sem que estivesse embasado em dados científicos.

Na ocasião dos fatos, o médico fazia um apanhado geral sobre a disseminação da doença e apontou que, estatisticamente, se não houvesse medidas de contingência, como o isolamento social e de prevenção, o vírus poderia, supostamente, contaminar até 2% da população de uma localidade. Como no caso de Botucatu conta com cerca de 240 mil habitantes, poderia ter mais 3 mil pessoas infectadas, mas não mortas. Ele não disse “vai matar”! Foi uma resposta técnica a respeito de um questionamento que, na ocasião, foi levantado.

Em nenhum momento o doutor afirmou que haveria os 3 mil mortos em Botucatu, como foi aventado nas redes sociais. Ele fez uma suposição de possíveis pessoas infectadas baseado em dados de letalidade da Organização Mundial da Saúde (OMS), como forma de alerta no caso de não serem implantadas medidas de contingência. E isso acarretou um erro de interpretação e uma celeuma sem nenhum precedente. Até mesmo por conta de ninguém ter bola de cristal para precisar ou mesmo prever o número de pessoas que serão infectadas e as que poderão morrer.

O novo coronavírus teria se manifestado no início de dezembro de 2019, na província de Wuhan, na China, em pessoas que, supostamente,  estiveram em uma feira de animais vivos. Logo após esses primeiros casos, o vírus se espalhou entre as pessoas – mesmo entre as que não tiveram contato com a feira de animais –, pois se trata de um vírus respiratório de fácil transmissão.

Nas semanas seguintes espalhou-se por diversos países do mundo, como Estados Unidos, França, Itália e Espanha, só para citar alguns exemplos.  Chegou ao Brasil e está infectando e matando pessoas. Muitas! A cada hora o quadro de pessoas infectadas se acentua e ninguém sabe até onde poderá chegar.

Voltando ao caso do professor doutor Carlos Fortaleza, tenho plena convicção de que não quis causar alarme ou pânico. Elencou várias maneiras simples de se precaver do contágio, já que o vírus em muitos casos é letal, principalmente nas pessoas acima dos 60 anos e portadores de doenças crônicas, que fazem parte do grupo de risco.  Tem muita gente morrendo no mundo. Brasil não é exceção. Vai morrer gente em Botucatu?  Ninguém pode duvidar disso! Torcemos para que o número de vitimas seja o menor possível.

Enfim, entendo que o infectologista da Unesp de Botucatu teve o intuito de explicar, alertar e orientar! Peço, então, licença para repetir o texto que ele redigiu como forma de desabafo em razão das agressões verbais que sofreu. Vamos a ele:

Entre os comentários, uma série de pessoas não só me desqualificaram tecnicamente quanto pessoalmente. Sou um servidor público, não sirvo a nenhuma legenda partidária ou algum interesse. Sou um médico que escolheu não ter um consultório e não trabalhar no setor privado, apenas para servir a população com minha assistência, pesquisa e organizar serviços de atendimento em saúde pública. Tenho trabalhado desde a assistência direta do coronavírus até assessoria à Secretaria de Estado da Saúde, ao prefeito de Botucatu e à Organização Pan Americana da Saúde.

Quero dizer a todos que me disponho, a qualquer momento a ir à rádio e a qualquer outro veículo de comunicação para explicar sobre a doença. Peço aqueles haters, trollers, aquelas pessoas que gostam de postar conteúdo ofensivo, que venham conversar. Gosto de conversar, do diálogo e de posições opostas para que possamos discutir racionalmente, mas certamente tudo o que falei foi tecnicamente embasado.

O que eu disse foi para criar cautela e não pânico na população. Quem me acusou de autopromoção é algo que está longe de meus interesses. Sou servidor público, professor universitário e pesquisador. Continuarei trabalhando para proteger a população”.


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