Propósito central da tese premiada foi compreender os possíveis mecanismos moleculares da suplementação de óleo da semente de maracujá sobre o metabolismo das aves
 

Uma tese desenvolvida junto ao Programa de Pós-graduação em Zootecnia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Unesp, câmpus de Botucatu, foi a vencedora do Prêmio Unesp de Teses de 2023 na área de Agrárias.

Intitulada “Estudo proteômico do tecido hepático e muscular de frangos de corte suplementados com óleo de semente de maracujá”, a tese, defendida em agosto de 2022, é de autoria de Andrey Sávio de Almeida Assunção e foi orientada pelo professor Pedro de Magalhães Padilha.

Após concluir o mestrado em Zootecnia pela Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD, Andrey iniciou o doutorado na FMVZ em 2019. Foi bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento e Tecnológico (CNPq) e desenvolveu pesquisas sob a orientação do professor Pedro de Magalhães Padilha, com coorientação do professor José Roberto Sartori, focando em estudos proteômicos e metaloproteômicos aplicados à nutrição de frangos de corte.

O propósito central da tese premiada foi compreender os possíveis mecanismos moleculares da suplementação de óleo da semente de maracujá (OSM) sobre o metabolismo de frangos de corte em resposta ao estresse calórico, explorando também suas associações com a nutrição e o metabolismo das aves.

Atualmente, entre as alternativas estudadas para substituir o uso de antibióticos na avicultura industrial, destacam-se os produtos compostos por óleos essenciais e/ou extratos vegetais,  denominados de aditivos fitogênicos. São produtos naturais e livre de resíduos.

Dentre os aditivos naturais com potencial de serem utilizados na prática industrial, encontra-se o OSM. No entanto, não haviam relatos na literatura científica sobre a utilização de abordagens proteômicas para elucidar o efeito do OSM sobre o proteoma hepático e muscular de frangos de corte expostos ao estresse cíclico por calor, ou seja, havia uma lacuna de informações sobre o conjunto de proteínas expressas no fígado e nos músculos dos frangos ao ingerirem o aditivo.

A proteômica permite avaliar as mudanças na expressão de proteínas de tecidos e fluídos, auxiliando dessa forma, na compreensão dos mecanismos moleculares envolvidos na saúde, bem-estar, estresse e estados patológicos dos animais. “No estudo, os tecidos hepático e muscular, desempenhando funções específicas no organismo, são analisados quanto às mudanças nos valores de expressão proteica, revelando uma visão holística dos processos celulares, vias metabólicas, respostas imunes e estresse oxidativo”, explica Andrey.

A pesquisa adotou uma abordagem singular ao utilizar a suplementação de OSM para aprimorar a resistência ao estresse por calor em frangos de corte, como conta Andrey. “A análise proteômica minuciosa desses tecidos enriquece significativamente o entendimento dos efeitos dessa suplementação. Um ponto relevante da pesquisa é a contribuição para práticas sustentáveis, ao aproveitar subprodutos da indústria do maracujá, apresentando potencial para reduzir a dependência de antibióticos na avicultura”.

Os resultados do trabalho sugerem que a suplementação de OSM demonstrou mecanismo adaptativo para aumentar a tolerância ao calor, reduzindo o estresse oxidativo. Além disso, promoveu ativação de mecanismos de neuroproteção, proteção celular contra ocorrência de apoptose celular (morte celular programada), diminuição das respostas inflamatórias e regulação do metabolismo energético.

“O trabalho comprovou por meio de estratégias proteômicas a viabilidade da utilização do óleo de semente de maracujá como aditivo fitogênico na nutrição de frangos de corte, o que atende a prática de uma avicultura sustentável”, destacou o professor Pedro de Magalhães Padilha, orientador da tese. “O trabalho de tese permitiu a junção de estudos de nutrição animal com estudos tradicionalmente da área de química e biologia molecular, demonstrando e reforçando a necessidade da interação entre as grandes áreas da pesquisa para obtenção de resultados que atendam o setor industrial e a sociedade”.

Segundo Andrey, a inovação do trabalho reside na exploração do óleo da semente de maracujá como estratégia nutricional pioneira para mitigar os efeitos do estresse por calor em aves criadas em climas quentes. “O uso de ferramentas proteômicas para avaliar a expressão diferencial de proteínas nos tecidos hepático e muscular fornece insights valiosos sobre os efeitos moleculares do óleo, destacando sua originalidade. O trabalho abre portas para futuras pesquisas na nutrição animal e bem-estar das aves, ampliando o conhecimento sobre o uso de subprodutos agroindustriais nas rações animais”.

Os impactos da pesquisa são significativos em diversos aspectos. Cientificamente, contribui para o avanço do conhecimento em nutrição animal, abrindo espaço para pesquisas futuras. Tecnicamente, os resultados podem otimizar práticas na avicultura, oferecendo uma alternativa sustentável para aumentar a tolerância ao calor, reduzir o uso de antibióticos e aprimorar a qualidade da carne. Socialmente, fomenta uma economia circular ao aproveitar subprodutos do processamento de maracujá, gerando oportunidades econômicas locais. “O impacto da pesquisa pode ser medido, não apenas pelo seu valor científico intrínseco, mas também pela sua capacidade de influenciar positivamente os procedimentos da indústria avícola, melhorar a qualidade dos alimentos e promover práticas sustentáveis”, ressalta Andrey.

A pesquisa sobre alimentos alternativos e funcionais em frangos de corte e poedeiras comerciais permanece como foco de pesquisa no laboratório de nutrição de aves, liderado pelo professor Sartori, em colaboração com o Laboratório de Bioanalítica e Metaloproteômica, sob a coordenação do professor Padilha.

Andrey, que hoje exerce a função de extensionista agropecuário na BRF, com enfoque em aves reprodutoras, comentou a premiação da sua tese. “A pesquisa científica visa solucionar desafios que afetam nosso cotidiano. Acredito que os resultados que obtivemos possam oferecer uma contribuição útil à sociedade e a comunidade científica, o que me enche de satisfação. Em 2014, dei início aos meus estudos e trajetória profissional na área de avicultura. O reconhecimento por meio desta premiação não apenas me motiva, mas também me confere confiança para ampliar ainda mais minha contribuição para a avicultura”.

Andrey ressalta a valiosa contribuição dos seus colegas de trabalho durante os desafios diários da realização da pesquisa. “Expresso minha gratidão ao Dr. José Cavalcante, ao Dr. Leone Rocha e, especialmente, à Dra. Renata Aparecida Martins pela colaboração fundamental ao longo de todo o processo de análise no laboratório. Também agradeço aos professores Pedro de Magalhães Padilha e José Roberto Sartori pela oportunidade de realização dessa pesquisa. O sucesso desta jornada é resultado do trabalho conjunto e do espírito colaborativo dessa equipe excepcional”.

Por - Sérgio Henrique Santa Rosa