Pessoas assintomáticas podem infectar seus familiares com covid-19 sem terem conhecimento
05/08/2020
Pessoas assintomáticas podem infectar seus familiares com covid-19 sem terem conhecimento

Existem casos em que a pessoa infectada não sente nenhum sintoma, mas pode propagar o vírus, involuntariamente, contaminando pessoas, levando-as à morte

 

O professor João Carlos Vieira que vem realizando publicações de gráficos sobre a evolução da pandemia de covid-19, o novo coronavírus, em Botucatu relata uma história verídica mostrando como uma pessoa pode estar infectando o semelhante, especialmente familiares, sem saber.

Existem casos em que a pessoa infectada não sente nenhum sintoma, ou seja, é assintomática,  mas pode propagar o vírus, involuntariamente, contaminando pessoas, levando-as à morte. Vieira relata um caso, em Botucatu, que causou muita tristeza numa família. Essa história serve como um alerta para mostrar o quanto traiçoeira e perigosa é essa doença.

 

Vamos a ela

Roberto é um conhecido meu, com 43 anos de idade. Casado há cerca de 15 anos, passou a residir na casa de seus pais, após ter ficado desempregado em meados do ano passado. Como a casa é grande, lá residem, além do Roberto e de sua esposa, dois filhos adolescentes, seu, pai, com 74 anos, sua mãe, com 69 e uma tia idosa, com 71 anos.

No começo deste ano, Roberto conseguiu um novo emprego como metalúrgico e voltou a trabalhar. Estava cheio de planos. No entanto, com a chegada da pandemia da covid-19, houve certa incerteza com relação ao seu futuro profissional. Sua empresa adotou um sistema de rodízio e não houve nenhuma demissão. Isso acalmou muito o meu amigo.

Com relação à sua postura diante da pandemia, ele me disse outro dia, que tinha ouvido várias pessoas dizerem que gente como ele, com 43 anos, sem nenhuma doença, não seria contaminado e, se fosse, ele ou não sentiria nada ou sentiria só “uma gripezinha”. Assim, ele seguiu sua vida normalmente.  Nos dias em que trabalhava, saía da empresa e se encontrava com outros amigos dele em um barzinho ali do bairro, pra tomar umas e outras, comer um tira-gosto e falar de futebol. Depois ia pra casa. Vida normal.

Lá na casa do Roberto, desde que a pandemia chegou aqui, ninguém mais saiu de casa. Seus pais e sua tia, idosos, acataram todas as determinações das autoridades da saúde, que eles ouviam todo santo dia, pelo rádio e pela televisão. A mulher dele, bem como seus filhos, só saiam em caso de absoluta necessidade e, mesmo assim, de máscaras. Mas foram pouquíssimas vezes. A maioria das compras era feita pelo telefone e entregues lá na casa. Tudo andava bem...

Até que certo dia, seu pai amanheceu reclamando de dores de cabeça e espirrando muito. Por coincidência, também sua tia reclamou que estava com dificuldades para respirar. No mesmo dia, seguindo o que tinham ouvido pelo rádio, ligaram para a Central da Covid-19 de Botucatu e relataram o que estava se passando.

Ao final da tarde, uma equipe da Secretaria de Saúde foi até a casa e, diante da situação, resolveram colher material para testar para covid-19. Todos foram testados. Dois dias depois, a equipe voltou, com más notícias para a família: o pai, a tia e... Roberto deram positivo para coronavirus...

Dez dias depois, a situação era a seguinte: Roberto, em isolamento, não apresentava nenhum sintoma. Nada. Estava assintomático. Mas seu pai, que infelizmente era diabético, teve seu quadro agravado e teve que ser internado no HC da Unesp... Sua tia, coitada, que também tinha uma doença pré-existente – hipertensão – e além disso, era obesa, estava em pior situação. Com a dificuldade para respirar aumentando dia a dia, teve que ser transferida da enfermaria para a UTI. E lá estava já há quatro dias...

Esse quadro demonstra muito bem o que nós estamos constatando pelos números. Entre sete e oito de cada 10 dos infectados pela covid-19 não vão ter sintomas ou os terão na forma mais leve. E esses sete ou oito são os indivíduos com idade entre 20 e 60 anos. São os que saem de suas casas e levam vida normal, como se nada houvesse. São os que se reúnem nos bares. Roberto é um desses.

Já seu pai e sua tia, com idades avançadas, fazem parte do grupo em que há a menor incidência de casos. Respeitam o isolamento. Não saem ou saem muito pouco de suas casas. Mas, infelizmente, fazem parte daqueles em que a doença é mais agressiva e letal. Perto de oito em cada 10 pessoas que morreram pela covid-19, têm mais de 60 anos. São vítimas. Inocentes vítimas. E esse cenário não vai mudar, a não ser que os Robertos da vida mudem suas condutas.

Roberto não pretendia contaminar ninguém, é claro. Mas pautou sua conduta pelo que os negacionistas vêm pregando desde o início. As histórias reais da vida mostram o contrário. Roberto não teve nada, mas foi o agente propagador da doença. É isso o que acontece aos milhares pelo Brasil e pelo mundo todo. Até quando, Robertos?

É claro que as pessoas citadas na história não tiveram seus nomes revelados, para preservá-las. Apenas o Roberto. Afinal, ele é o ator principal desse drama. Vocês conhecem o Roberto? Qualquer Roberto?

 

Professor João Carlos Vieira


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