Nesta segunda, o Bispado de Botucatu completou 113 anos
15/06/2021
Nesta segunda, o Bispado de Botucatu completou 113 anos

 

Gesiel Junior

Especial para o Tribuna de Botucatu

 

Neste 7 de junho de 2021 completou-se o capítulo dos 113 anos da Igreja Particular de Botucatu, criada oficialmente na mesma data no longínquo 1908. Mas o que é uma Igreja Particular?

Teologicamente se refere aos católicos que habitam um território conduzido por um bispo, ou seja, um bispado ou diocese, uma comunidade eclesial em plena comunhão com Roma, uma parte da Igreja Católica vista como um todo.

Ao abrir novo ano na história do catolicismo em Botucatu oportuno é ponderar sobre seus períodos de glória ou de crise. Afinal essa Igreja local teve um bispo excomungado por denúncias descabidas e um arcebispo rejeitado por parte do clero. Esses dois tristes episódios marcaram os anais eclesiásticos do país.

Hoje, ao contrário de antigamente, caiu muito a importância dada à figura do bispo pelo povo. E hoje ouvem-se nomes como dom Lúcio, dom frei Luiz Maria de Sant’Ana e dom Zioni, apenas quando são citados endereços, já que correspondem, respectivamente, à avenida de entrada de Botucatu, à praça da catedral e a uma alameda aberta recentemente na área central da cidade.

Historicamente, todos esses prelados exerceram influência na vida religiosa ao longo do século vinte, mas seus feitos estão presos nas páginas de livros dos memorialistas Aluísio de Almeida, Hernâni Donato e João Figueiroa. A propósito, eles narram, por exemplo, que coube a dom Lúcio Antunes de Souza, o primeiro bispo, evangelizar uma vasta região que na época compreendia a metade do Estado de São Paulo. Por duas vezes, entre 1909 e 1923, esse prelado mineiro visitou o seu extenso bispado, quase sempre a cavalo, com sacrifício e coragem, mesmo em meio à pandemia da Gripe Espanhola.

Na atualidade também ponderações podem ser feitas sobre a jornada eclesial, já que a pandemia do novo coronavírus vem sendo uma fase de grande estresse para os membros do clero, bem como para o arcebispo atual, os quais psicologicamente se deparam com sentimentos até de perda de identidade.

Quem hoje está à frente do bispado (arcebispado desde 1959) é dom Maurício Grotto de Camargo, prudentino de 63 anos, dos quais doze à frente desse rebanho espiritual com quase meio milhão de batizados. A rigor, ele poderá ocupar a cátedra até 2032, a não ser que renuncie antes ao posto ou seja designado pelo papa para outra função.

Por ser uma pessoa reservadíssima e por nunca ter feito visitas pastorais às paróquias, poucas ovelhas o identificam. Discreto, apesar da vasta barba grisalha, mesmo que possa parecer um contrassenso pastoral, talvez ele prefira não ser visto como uma autoridade e nem aprecie reverência ao seu múnus episcopal.

O mundo – e também a Igreja – atravessa um período complexo em que a descristianização cresce e, com efeito, muitos pastores, como dom Maurício, naturalmente desanimam, sentem-se deprimidos ou deslocados nessa era digital e até ficam sem saber como profetizar.

A hora, mesmo confusa ou complicada, também para os consagrados ao serviço divino, nos chama a meditar em versos escritos há mais de meio século por uma figura sábia, a do primeiro arcebispo de Botucatu, o poeta franciscano dom frei Henrique Golland Trindade.

Numa poesia vamos sonhar pelo bem do nosso bispado e pedir para que o nosso atual arcebispo se alegre em seu pastoreio, sabendo preservar nossos valores históricos, à luz da fé:

Todos amam.

Todos sonham.

Todos cantam.

Eu também posso amar.

Eu também posso sonhar.

Eu também posso cantar.

Amo a Igreja do Senhor. E com ela sonho sempre, sempre. Sonho com ela, nas noites compridas de insônia. Sonho com ela, pelos dias em fora, também. Quando rezo ou trabalho, ou repouso, quando sofro ou me alegro, quando sinto coragem ou tenho medo, sonho com a Igreja do Senhor, também. Sonho sempre, sim, com ela porque a amo, porque dela preciso, porque o mundo precisa dela. Sonho, porque sei que ela me ama. Mas sonho, também, porque sei que ela não precisa de mim.

 

Gesiel Júnior - Cronista e pesquisador, autor de 40 livros sobre a história da região, é membro da Academia Botucatuense de Letras e da Academia Sorocabana de Letras.


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