Conselho de Ética aprova suspensão por quatro meses do deputado Fernando Cury acusado de assédio
05/03/2021
Conselho de Ética aprova suspensão por quatro meses do deputado Fernando Cury acusado de assédio

Foto - Divulgação

Votaram Maria Lúcia Amary (PSDB), Adalberto Freitas (PSL), Emidio de Souza (PT), Barros Munhoz (PSB), Erica Malunguinho (PSOL), Wellington Moura (Republicanos), Estevam Galvão (DEM), Delegado Olim (PP) e Alex de Madureira (PSD)

 

O Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) aprovou nesta sexta-feira (5) a condenação do deputado Fernando Cury (Cidadania), com suspensão do mandato dele por quatro meses, sem remuneração salarial, no processo em que a deputada Isa Penna (PSOL) o acusa de importunação sexual. Ela pedia a cassação do mandato do colega, depois que uma câmera da Casa registrou o parlamentar colocando a mão no seio dela.

Há dois dias, o deputado Emídio de Souza (PT), relator do caso, leu o relatório com suas considerações finais, em que sugeriu que Cury fosse punido com um afastamento do cargo pelo prazo de seis meses. Ele considerou que "o corpo da mulher não pode mais ser objeto da lascívia masculina", e que "o fato em análise causou imensos danos à imagem, à vida e à dignidade da representante".

Nesta sexta, na última sessão do Conselho de Ética sobre o caso, todos os 9 integrantes do comitê concordaram sobre a condenação de Cury, mas divergiram entre si sobre o tipo de punição que deveria ser aplicada. O voto de Wellington Moura (Republicanos) foi acompanhado por 4 deputados - Adalberto Freitas (PSL), Delegado Olim (PP), Alex de Madureira (PSD) e Estevam Galvão (DEM), e definiu a punição de afastamento por 4 meses.

"Deputados, seria difícil pra mim, como cristão, não saber perdoar, não ter misericórdia. O deputado Fernando Cury que eu conheço é pai, é família, é marido de uma só mulher, é uma pessoa que ama sua esposa, é carinhoso. Foi excessivo, errou com a deputada Isa Penna, mas merece na vida uma segunda chance, como todos nós", disse Wellington Moura (Republicanos), mostrando fotos de Cury em família.

Os 5 deputados deixaram a sessão virtual assim que o resultado foi definido, inviabilizando a continuidade da discussão pelos colegas. O resultado e a postura de deixar a reunião revoltaram os outros 4 deputados do Conselho de Ética.

"Hoje o jogo democrático encontra uma resposta na decisão deste colegiado, que com certeza terá uma resposta negativa pela sociedade, que está nos assistindo. Lamentável a retirada dos deputados, em uma postura de total desrespeito a mim, como deputada e como mulher. Vou rever meu posicionamento na Comissão de Ética porque não admito o desrespeito a que acabamos de assistir. Eu ouvi todos até o fim durante meses, e no momento em que tínhamos a oportunidade de responder à sociedade que está lá fora, como se deve comportar uma comissão de ética, faltaram com respeito", disse Maria Lúcia Amary (PSDB), presidente do comitê.

Para que a decisão do Conselho de Ética seja efetivamente acatada, a maioria dos deputados, em um quórum de 48 parlamentares, deve ratificar o entendimento pela condenação de Fernando Cury em votação aberta na Assembleia Legislativa.

A expectativa é de que esta votação ocorra até o dia 15 de março, quando será eleito um novo presidente da Casa e também uma nova composição das comissões.

A sessão desta sexta-feira foi acompanhada pelos seguintes integrantes do comitê:

  • Maria Lúcia Amary (PSDB)
  • Adalberto Freitas (PSL)
  • Emidio de Souza (PT)
  • Barros Munhoz (PSB)
  • Erica Malunguinho (PSOL)
  • Wellington Moura (Republicanos)
  • Estevam Galvão (DEM)
  • Delegado Olim (PP)
  • Alex de Madureira (PSD)

 

Como votou cada deputado

O voto de Wellington Moura (Republicanos), que advogou pelo colega, pediu misericórdia e defendeu punição mais branda, com afastamento de 4 meses foi acompanhado pelos colegas Adalberto Freitas (PSL), Delegado Olim (PP), Alex de Madureira (PSD) e Estevam Galvão (DEM).

O voto gerou um longo debate na sessão. Barros Munhoz (PSB) e Erika Malunguinho (PSOL) criticaram duramente o voto, e acompanharam o relator Emídio de Souza (PT), assim como a presidente do Conselho de Ética, Maria Lúcia Amary (PSDB).

"Fernando Cury, meu irmão, você não disse a verdade quando afirmou que não tinha bebido. Seu gabinete ficou aberto até as 4 da manhã. A verdade é essa: você cometeu uma falha grave. Eu sei disso, você sabe disso, o Alex (de Madureira) sabe disso. O Alex falou para você não fazer a besteira que fez. Então, com dor no coração: você tem que pagar pelo que fez. Renuncie! Reconheça o erro - 'eu não tenho direito de ficar mais 2 anos. Vou renunciar'. Você pode ser redimido pelo povo. Você é honesto. Você é gente boa", disse Barros Munhoz (PSB), acrescentando um voto pela cassação do mandato, ao invés de afastamento do cargo.

Erica Malunguinho (PSOL) argumentou que a decisão do Conselho de Ética deveria ser tratada como um marco civilizatório.

"Este conselho, que é de ética, tem a responsabilidade politica e social, de dar uma resposta condizente aos fatos, e não para esquerda ou direita, para a mulher evangélica, ateia ou candomblecista. Transcende: é social. Estamos respondendo à violência sofrida pelas mulheres deste país. E este conselho tem a função de responder de forma contundente. É para que as crianças e meninas não precisem mais de treinamento para se proteger do olhar masculino, nem da invasão do corpo. É sobre um pacto social, é civilizatório", disse Erika Malunguinho (PSOL), colega de bancada de Isa Penna.

 

Reuniões no Conselho de Ética

A denúncia de Isa Penna por quebra de decoro parlamentar foi aceita pelo Conselho de Ética há um mês. Desde então, o processo correu com agilidade no comitê presidido pela Maria Lúcia Amary (PSDB), uma vez que ele tinha 30 dias para ser concluído.

Em depoimento ao comitê, o deputado Fernando Cury voltou a negar o crime e argumentou que se tratou apenas de um "gesto de gentileza" ao interromper a conversa que a deputada estava tendo com Cauê Macris.

Ele também levou testemunhas que não presenciaram os fatos, mas que se posicionaram como amigas dele. Cury também contratou um perito, que afastou a tese de importunação sexual.

Depois disso, Isa Penna, que já havia afirmado que Fernando Cury estava bêbado no momento do episódio e que ocupar um cargo político no Brasil é uma experiência machista e violenta para as mulheres, pediu que o Conselho de Ética ouvisse alguns dos deputados que estavam próximos aos fatos.

Os deputados Gilmaci Santos (Republicanos) e Alex de Madureira (PSD), que conversava com Fernando Cury momentos antes da aproximação e chegou a puxar o braço do colega, não aceitaram o convite e alegaram outros compromissos. Teonílio Barba (PT) deu seu relato, indicando que considera o "abraço" de Cury "muito estranho" por ter sido feito por trás, de surpresa, sem consentimento e repelido pela parlamentar, com quem não tinha intimidade.

Na quarta-feira, Emídio de Souza (PT), relator do caso votou pela condenação do parlamentar. "Ao abraçar, pelas costas, a deputada Isa Penna e lhe tocar os seios sem seu consentimento, o deputado Fernando Cury, teve um comportamento inadequado que atentou contra a Ética e o decoro parlamentar entendido como o conjunto de regras e comportamentos a que estão submetidos os membros desta casa, que visam a convivência respeitosa, harmoniosa e civilizada entre os deputados e deputadas que a compõe", argumentou o parlamentar.

O relatório poderia ser votado pelos integrantes do Conselho de Ética no mesmo dia, mas Wellington Moura (Republicanos) e Adalberto Freitas (PSL) pediram vistas do processo, com apoio do Delegado Olim (PP), alegando que não tiveram acesso ao documento com antecedência. Por este motivo, a conclusão do caso teve atraso de dois dias e concluído somente nesta sexta-feira.

 

Outras investigações sobre Fernando Cury

Além do processo correndo no Conselho de Ética, Fernando Cury é alvo de uma investigação criminal aberta pelo Ministério Público de São Paulo e autorizada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, que autorizou a abertura da investigação, já que todo parlamentar tem foro privilegiado em São Paulo.

No pedido de investigação, a promotoria informou que “os fatos, em uma preliminar análise, podem ter contornos de infração criminal” e de “crime contra a liberdade sexual”, precisando, portanto, de “abertura de investigação criminal para a oitiva das testemunhas indicadas com a finalidade de angariar elementos de elucidação dos fatos”.

O deputado estadual também é alvo de um processo disciplinar no partido dele, o Cidadania. Fernando Cury foi afastado das funções dele no partido em 18 de dezembro, após a repercussão do caso.

O Cidadania considerou que o episódio de importunação sexual na Alesp foi "desrespeitoso, afrontoso e deve ser combatido", e o Conselho de Ética da legenda recomendou ao diretório nacional a expulsão do parlamentar do partido.

A expulsão de Cury seria decidida na reunião do diretório nacional no dia 13 de janeiro, mas o encontro foi suspenso porque ele conseguiu uma liminar na Justiça de Brasília para suspender o processo interno.

A juíza Thassia de Moura Guimarães, da 20º Vara Cível de Brasília, entendeu que o processo contra o deputado deve ser primeiro direcionado ao conselho de ética no âmbito estadual do Cidadania em São Paulo. Depois disso é que ele deve ser analisado no âmbito nacional.

Apesar da liminar favorável, Cury continua afastado das tarefas do partido, incluindo a de liderança da sigla na Alesp.

Fonte – G1


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