Principal suspeito de chefiar quadrilha que invadiu Botucatu tem uma extensa ficha criminal
14/08/2020
Principal suspeito de chefiar quadrilha que invadiu Botucatu tem uma extensa ficha criminal

Foto - Divulgação

Usando armas de grosso calibre a organização criminosa por trás dos assaltos voltou a praticar os ataques no último ano de forma mais frequente, fazendo levantamentos, organizando a logística, simulando como vão fugir e onde ficarão escondidos

 

Principal suspeito de liderar o ataque a agência bancárias no município de Botucatu, no último dia 29 de julho, Carlos Wellington tem uma longa ficha criminal e o que chama atenção é a suposta participação em grandes assaltos pelo país. Essas informações foram levantadas pelo Núcleo de Jornalismo Investivativo da Record TV.

De acordo com investigações da Polícia Civil, Carlos é um dos integrantes do grupo criminoso que praticou o maior roubo já registrado no Estado do Piauí. Ele foi condenado em 2018 pelo crime, depois de ter fugido da Penitenciária de Teresina.

A reportagem teve acesso à denúncia feita Ministério Público do Piauí do caso do roubo milionário que aconteceu no Piauí, em dezembro de 2016. O documento aponta que Carlos teria contado com apoio Marcelo José de Lima, conhecido como Febronho. Este foi preso anos depois, apontado como um dos criminosos que roubou 700 quilos de ouro no Aeroporto de Guarulhos, no ano passado.

Por meio de DNA, as investigações da Polícia Federal também apontou que o suposto parceiro de calor é um dos participantes do maior assalto já registrado no Paraguai, em 2017.

No entanto, para a Justiça Brasileira, Carlos Wellington está praticamente invisível. Isso porque Carlos chegou a ser condenado a 34 anos de prisão no período em que estava foragido, no entanto, nem a condenação, nem a fuga, foram comunicado ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

O CNJ é responsável por reunir as informações sobre todos os procurados pela Justiça no país. Isso significa que, caso ele fosse encontrado em qualquer Estado do país, a polícia teria informação da condenação e ele ficaria preso. No sistema, a última atualização é de abril de 2017.

De acordo com as investigações da Polícia Civil, no ataque em Botucatu, o irmão de Carlos Wellington, o Carlos William Marques de Jesus, levou um tiro na mão e pagou três mil reais para um casal para tentar escapar.

Para a Polícia Civil, os irmãos também teriam participado de um ataque na cidade de Ourinhos, também no interior paulista, em maio deste ano. Em ambos ataques, os criminosos praticaram os assaltos fortemente armados e com planejamento para não deixar vestígios.

Fuzis à mão. Bloqueios e monitoramento de rodovias. Bombardeios às bases da Polícia Militar. A dinâmica que possibilitou os ataques às agências bancárias e joalheria na cidade de Botucatu, expõe uma estratégia de ação conhecida por policiais civis do Estado, mas, segundo eles, difícil de se evitar.

“Não tenho dúvida de que a célula criminosa que chefia essas ações é composta pelas mesmas pessoas”, afirma o delegado titular da delegacia de homicídios de Araçatuba, Antônio Paulo Natal. Segundo ele, os assaltos organizados em municípios do interior seguem o mesmo padrão nos últimos anos. Além do ataque mais recente, em Botucatu, houve um ataque a Ourinhos em maio, em Bragança Paulista no mês passado, e há um ano aconteceu o assalto em Guararema.

Para o professor de Gestão Pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Rafael Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, agir em crimes como esse "requer uma integração entre as agências, que as polícias, o Ministério Público e Receita Federal troquem informações, e é preciso ter equipamentos de primeira linha para fazer interceptações telefônicas, além de policiais bem preparados e bem remunerados".

A inteligência para impedir que grandes crimes praticados por organizações criminosas, sobretudo pela facção PCC (Primeiro Comando da Capital), está centralizada no Ministério Público da região de Presidente Prudente, conta o senador Major Olímpio, que atuou por 29 anos como policial militar no Estado de São Paulo.

Detentos apontados como principais lideranças do PCC estão em presídios do Oeste do Estado. As principais investigações sobre crimes possivelmente cometidas pelo grupo também. Mas não necessariamente as ações devem ser relacionadas ao grupo, afirma Olímpio. "Dizer que todos esses assaltos foram cometidos pelo PCC é só chute, palpites, porque investigação mesmo para apontar isso não existe", diz.

O senador afirma que, assim como pessoas presas apontadas como lideranças do PCC estão no Oeste do Estado, as principais investigações sobre crimes possivelmente cometidas pelo grupo criminoso também se concentram na região. "Dizer que todos esses assaltos foram cometidos pelo PCC é só chute, palpites, porque investigação mesmo para apontar isso não existe", diz o senador.

 

'Trabalho que leva tempo'

De acordo com o delegado Natal, que chefiou a operação Homem de Ferro na cidade de Araçatuba, a 518 quilômetros de São Paulo, os roubos ocorrem normalmente na primeira semana do mês, em feriados prolongados ou de domingo para segunda-feira.

“O elemento surpresa costuma ser o ataque a base da Polícia Militar, que dependendo da cidade tem, em média, entre 10 e 20 policiais”, diz. A operação prendeu 22 pessoas suspeitas de participar do assalto a empresa de valores Protege.

“A forma de agir desses grupos é idêntica: utilizam veículos com pisca alerta ligado, fecham pontos estratégicos das cidades e apostam em um elemento surpresa”, afirma. “São raros os casos que a polícia consegue surpreender. É preciso trabalhar com investigação e tentar identificar quem praticou o roubo. Ao mesmo tempo, não há testemunha ocular, todos estão sempre encapuzados.”

A operação para prender os suspeitos de assaltar a transportadora de valores, em 2017, foi possível, explica o delegado, por uma série de fatores. “Pegamos as impressões digitais, números de celular por meio de pedaços de chips telefônicos cortados”, afirma. Segundo ele, a investigação durou cerca de um ano. “Não é da noite para o dia que se obtém as provas, elas demoram a aparecem e são complexas”, afirma.

Um dos aspectos, de acordo com Natal, fundamentais para a operação foi o apoio da administração municipal para os policiais civis se dedicarem integralmente à investigação. “Foram 90 dias sem conseguir nada e até hoje sabemos que não prendemos todo mundo, ainda existem pessoas foragidas. É um trabalho que leva tempo.”

Uma ferramenta primordial para a investigação, acredita o delegado, é o material de DNA coletado e as impressões digitais. “Quando tem suspeitos mortos, é preciso encontrar pessoas que atuaram junto a ele”, explica. “No caso das armas utilizadas, é necessário fazer um confronto para descobrir os locais por onde o armamento passou.”

Natal afirma que a organização criminosa por trás dos assaltos voltou a praticar os ataques no último ano de forma mais frequente. “Eles fazem levantamentos, organizam a logística, simulam como vão fugir e onde ficarão escondidos”, diz. “A organização teve algumas baixas em momentos anteriores, mas acredito que se reorganizaram.”

Para o delegado, o confronto entre suspeitos e policiais militares não é o melhor caminho. “A troca de tiros em uma zona urbana pode atingir um morador, um estabelecimento”, afirma. “Tem que reforça a Polícia Militar, mas dar condições de agir junto com a inteligência da Polícia Civil para se antecipar à ação.”

 

Ações coordenadas

Para o delegado titular da DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Bauru, também no interior de São Paulo, os lotes de explosivos encontrados em assaltos como esses é mais um dos indicativos de que se tratam de ações coordenadas pela mesma organização criminosa.

“Geralmente são explosivos desviados de pedreiras, utilizados para explodir minérios”, afirma. “Normalmente, são colocados totens de metal para a explosão acontecer remotamente, com um celular acoplado, como ocorreu no caso da Prosegur, no Paraguai.”

O delegado diz ainda que, no decorrer das investigações, percebeu a divisão em células nos ataques. “Existem os núcleos financiados que vão a campo e contratações de células vinculadas aos criminosos para dar apoio. Alguns recebem um determinado valor para vigiar um certo perímetro”, explica. “Tem indivíduos que fazem os monitoramentos, outros são encarregados pela abertura dos cofres e aqueles que buscam o comboio de veículos e das armas. Mas quem lucra mais é o núcleo que faz o financiamento da ação.”

O delegado, que atualmente chefia uma investigação sobre um assalto que ocorreu em Ourinhos, afirma que os policiais militares têm dificuldade para atuar em áreas urbanas. “Eles não podem fazer os disparos, já os criminosos não têm essa preocupação.” Para ele, a criação de batalhões da Polícia Militar não deve mudar o cenário. “O confronto não pode ser priorizado.”

Segundo ele, o governo de São Paulo deve investir nas áreas de inteligência e investigação da polícia do Estado. “Não temos pessoas suficientes para investigar algumas ações, precisamos de um incremento, mais policiais para trabalhar em uma investigação”, afirma. O principal ponto do trabalho de inteligência da polícia é, segundo ele, é preciso rastrear o destino do dinheiro roubado. “Sabemos que, provavelmente, será utilizado no tráfico ou lavado, mas é preciso fazer o rastreamento para se tentar chegar às pessoas.”

“Há uma necessidade de unificar as informações recolhidas pela Polícia Civil e pela Polícia Federal, sentar à mesa e observar as coincidências, como nomes envolvidos, confrontar estojos de munições apreendidas, centralizar as perícias. Isso requer mais integração.”

 

Outro lado

Procurada pela reportagem, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo) disse que “trabalha permanentemente para reduzir os casos de roubo a banco”. A pasta destaca as estatísticas criminais referentes ao mês de junho deste ano, que não registrou nenhum caso de roubo a banco no Estado.

Segundo a secretaria, o trabalho integrado da Polícia Militar com a Polícia Civil resultou na prisão de 14 pessoas supostamente envolvidas em roubos a bancos, além de ter apreendido 43 fuzis no primeiro semestre deste ano.

Por fim, a SSP-SP diz que esses crimes são investigados em parceria entre as Delegacias de Investigações Gerais com as unidades territoriais, além de ter o apoio, quando necessário, da  5ª Delegacia de Investigações sobre Furtos e Roubos a Banco, do Departamento Estadual de Investigações Criminais.

 

Cinco pessoas foram presas

Cinco pessoas suspeitas de envolvimento no ataque. Segundo a polícia, elas teriam ajudado os criminosos na fuga. De acordo com o delegado seccional de Botucatu, Lourenço Talamonte Neto, um homem e um casal com uma criança estavam em um carro quando foram parados em uma abordagem de rotina da Polícia Militar Rodoviária na rodovia Castello Branco, na altura da praça de pedágio de Itatinga. 

Durante a abordagem, o homem correu e entrou em um outro veículo que estava logo atrás. Nele estavam três mulheres. Assim que ele entrou, fugiram do local em alta velocidade em direção a São Paulo.

Houve perseguição por mais de 10 quilômetros. O grupo só foi abordado em outro município, em Boituva. O homem fugiu em direção a uma área de mata, mas o casal e as três mulheres foram presos.

Nos veículos usados pelo grupo, a polícia encontrou roupas, lanternas e materiais de primeiros socorros. Os cinco foram conduzidos até a delegacia de Botucatu, onde foram presos em flagrante por organização criminosa. Já a criança foi entregue ao Conselho Tutelar.

Na investigação, foi apurado que o grupo esteve hospedado em um hotel de Botucatu na ocasião dos ataques a agências bancárias. A polícia acredita que os presos possam ter dado apoio médico ou logístico aos criminosos.

Fonte – R7


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