Funkeiro que compôs música sobre assalto a banco ocorrido em Botucatu tem condenação mantida pela justiça

Nessa música, com mais de 70 mil visualizações no Youtube, o condenado se coloca no lugar dos criminosos da quadrilha e relata em primeira pessoa os acontecimentos no dia do crime

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) manteve a condenação do funkeiro Érick Rodrigues de Souza, o “MC Bokão”, por apologia ao crime, prevista como crime contra a paz pública. A pena original era de três meses de detenção em regime aberto, mas foi substituída por multa de 10 diárias no valor mínimo legal, além do pagamento de R$ 15 mil por danos morais coletivos.

MC compôs e divulgou a música referente ao assalto ocorrido em Botucatu em 2020 que repercutiu em todo pais, em razão da atuação dos criminosos. Nessa música, o condenado se coloca no lugar dos criminosos da quadrilha e relata em primeira pessoa os acontecimentos no dia do crime. Houve mais de 70 mil visualizações no Youtube.

Segundo a decisão da 14ª Câmara de Direito Criminal, os desembargadores deram parcial provimento ao recurso da defesa para afastar uma agravante genérica, que trata de crimes cometidos para facilitar ou assegurar a execução de outros. Com isso, a pena foi reduzida e substituída pela multa. A condenação por apologia ao crime, no entanto, foi mantida.

O delegado seccional de Polícia de Botucatu, Lourenço Talamonte Neto, aponta que a música faz apologia ao crime, por isso, foi instaurado um inquérito para apurar os fatos. “No entanto, não há suspeita de que o MC tenha relação direta aos criminosos que atacaram a cidade”, coloca o delegado.

Nota do músico acusado

“Eu sou o tipo de MC que não fica usando a cultura do funk pra ficar justificando, mas no meu caso é algo meio contraditório, porque eu sempre fiz minhas músicas baseado nas reportagens. Eu nunca enalteci facções ou falei mal de polícia, sou uma pessoa do bem, nunca usei droga, não bebo, tenho família, e nunca foi minha intenção criar alguma sensação de poder com as minhas músicas, também não dou de opinar em outros estilos de música, eu só falo por mim e pelo meu estilo, e quanto vocês estiverem noticiando as práticas de roubo, eu vou me sentir confuso sobre essa condenação”.

Relembrando o crime

O crime que aterrorizou a população de Botucatu teve início por volta das 23h30 do dia 29 de julho e durou cerca de três horas. A polícia apurou que, pelo menos, 40 homens teriam participado da ação criminosa e roubaram joalheria e bancos, usando artefatos explosivos e armas de grosso calibre. Houve intensa troca de tiros ouvida de vários pontos da cidade e dois policiais ficaram feridos durante o confronto.

Na manhã do dia 30 de julho, em um novo tiroteio entre policiais e criminosos na Rodovia Marechal Rondon, um suspeito ficou ferido após ser baleado enquanto tentava fugir. Ele foi socorrido, mas chegou sem vida ao hospital. A família desse homem alega que ele era inocente e não era integrante da quadrilha.

Em 2021, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) condenou cindo pessoas acusada de ajudarem a fuga dos quadrilheiros. A decisão da 2ª Vara do Foro Criminal de Botucatu determinou a pena de 10 anos e seis meses de prisão em regime fechado a um homem, e outras quatro mulheres foram sentenciadas a nove anos de reclusão em regime fechado e cumprem pena na penitenciária de Votorantim.

Parte do grupo foi preso após uma abordagem da Polícia Rodoviária no pedágio de Itatinga. No total, segundo a polícia, 19 pessoas foram indiciadas e 16 permanecem presas.

Vinícius Gritzbach

Um detalhe interessante é que uma análise feita pelo Instituto Sou da Paz apontou que parte da munição usada para matar o delator do PCC, Vinicius Gritzbach, pertencia ao mesmo lote do armamento utilizadas nesse assalto ocorrido em 2020 em Botucatu. Três lotes de balas de fuzis encontrados nas ocorrências foram originalmente comprados pela Polícia Militar do Estado de São Paulo entre 2013 e 2018.

Os laudos produzidos durante as investigações sobre as armas usadas nos crimes foram encaminhados ao instituto, que identificou a sequência numérica das munições encontradas nos locais das duas ocorrências, demonstrando que pertencem ao mesmo lote adquirido pela PMESP.