Estudo identifica novas possibilidades de reposicionamento de medicamentos já existentes para tratar câncer de pulmão metastático, unindo biologia de célula única e inteligência artificial, e conquista reconhecimento internacional
A doutoranda Maria Raquel Gomes Fernandes, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (Genética) do Instituto de Biociências da Unesp, em Botucatu, conquistou o Developing Country Education Award, um dos reconhecimentos mais disputados da World Conference on Lung Cancer (WCLC 2025), promovida pela International Association for the Study of Lung Cancer (IASLC), realizada entre 6 e 9 de setembro, em Barcelona, Espanha. O prêmio, concedido a jovens pesquisadores de países em desenvolvimento, garantiu suporte para sua participação no maior evento mundial dedicado ao câncer de pulmão.
Além da premiação, Maria Raquel apresentou seu trabalho científico em duas modalidades: o Poster Tour Presentation e o Oral Presentation no LATAM Regional Workshop, ambos realizados no dia 6 de setembro. O estudo foi desenvolvido sob a orientação do Prof. Dr. Robson Francisco Carvalho, do Departamento de Biologia Estrutural e Funcional do IBB/Unesp; coorientação da Profa. Dra. Patrícia Pintor dos Reis, docente do Programa de Pós-Graduação em Cirurgia e Medicina Translacional da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB/Unesp); e do Prof. Dr. Rafael P. Simões, do Departamento de Bioprocessos e Biotecnologia da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA/Unesp).
Inovação científica com impacto social
O câncer de pulmão é a principal causa de morte por câncer no mundo, em grande parte devido às metástases — quando células tumorais se espalham para outros órgãos, como cérebro e linfonodos, tornando-se mais resistentes aos tratamentos.
O trabalho de Maria Raquel se destacou ao combinar duas frentes de ponta:
- as tecnologias de células únicas (single-cell RNA-seq), que permitem analisar o perfil molecular de cada célula tumoral isoladamente;
- a inteligência artificial (IA), usada para cruzar essas informações moleculares com bancos de dados que reúnem os efeitos de milhares de medicamentos já existentes.
Essa integração possibilitou identificar perfis moleculares das células metastáticas e gerar uma lista de fármacos que podem ser reposicionadas (drug repurposing) como potenciais tratamentos para pacientes com câncer em fase avançada. Entre os candidatos estão medicamentos já conhecidos, como antidepressivos, imunossupressores e moduladores hormonais, que agora serão testados em modelos experimentais como alternativas contra o câncer de pulmão metastático.
“A combinação entre biologia de célula única e inteligência artificial abre novas perspectivas para acelerar a descoberta de tratamentos em áreas de grande necessidade médica. A conquista da Maria Raquel representa não apenas um avanço científico, mas também reforça o protagonismo de jovens pesquisadoras brasileiras no cenário científico internacional. Este resultado também evidencia como a colaboração entre diferentes grupos e áreas de expertise é essencial para gerar novas descobertas. Destaco, em especial, o apoio dos coorientadores da Maria Raquel, Profa. Patrícia Pintor dos Reis (FMB/Unesp) e Prof. Rafael P. Simões (FCA/Unesp), e de seus respectivos grupos de pesquisa, cuja parceria foi decisiva para o desenvolvimento e fortalecimento deste estudo”, afirma o professor Robson Francisco Carvalho, do Departamento de Biologia Estrutural e Funcional do IBB/Unesp.
Leandro Rocha – Vias Digitais


