Segundo especialistas, era um dos cardeais com maior chance de conseguir o cargo por sua “inclinação pastoral, perspectiva global e capacidade de governar a Cúria Romana”
Em reunião do Conclave, contando com 133 cardeais representando vários países do mundo, o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost, de 69 anos, é escolhido o novo Papa da Igreja Católica. Adotando o nome de “Leão XIV” é o primeiro pontífice norte-americano, que sempre foi muito ligado ao Papa Francisco, que morreu, recentemente.
Cardeal virou papa após conseguir mais de dois terços dos 133 votos. A fumaça branca que anunciou o novo papa saiu da chaminé da Capela Sistina às 13h07 (horário de Brasília).
O anúncio foi feito pelo cardeal Dominique Mamberti em latim, seguindo a tradição da Igreja Católica. “Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus Papam” (“Anuncio-vos uma grande alegria: temos um papa”). Mais de 20 mil pessoas receberam o anúncio na praça de São Pedro. Muitos balançaram bandeiras e se emocionaram.
Nascido em Chicago, nos Estados Unidos, Prevost se formou em matemática antes de decidir virar padre, aos 22 anos. Ele é poliglota e se juntou aos agostinianos para uma missão no Peru em 1985. Voltou ao país latino em 2014 e ganhou a cidadania no ano seguinte.
O novo pontífice é considerado “um moderado construtor de pontes”. Segundo especialistas, era um dos cardeais com maior chance de conseguir o cargo por sua “inclinação pastoral, perspectiva global e capacidade de governar a Cúria Romana”. Após surgir na sacada, o novo papa fez a bênção “urbi et orbi” (à cidade e ao mundo), direcionada aos fiéis que se aglomeravam em frente à Basílica de São Pedro.
Como foi a bênção do Papa Francisco, argentino, escolhido no conclave de 2013, que disse em seu primeiro discurso, brincando com a própria nacionalidade, afirmando que foi “buscado quase no fim do mundo” e fez uma oração pelo Papa Bento 16, que tinha renunciado ao cargo, e pediu que os fiéis presentes rezassem por ele.
O número de votos depositados no nome escolhido não foi divulgado. A eleição aconteceu na Capela Sistina, no Vaticano. Mas, para ser eleito, é necessário que ele tivesse recebido ao menos 89 votos – equivalente a dois terços dos 133 cardeais votantes.
Sete brasileiros participaram da votação: Dom Paulo Cezar Costa, 57, Dom Leonardo Ulrich Steiner, 74, Dom Odilo Scherer, 75, Dom Jaime Spengler, 64, Dom Sérgio da Rocha, 65, Dom Orani Tempesta, 74, e Dom João Aziz, 77
Principais desafios que Leão XIV terá pela frente
O papa Francisco era visto como mais alinhado a setores progressistas e já teve encontros e diálogos amigáveis com figuras como Evo Morales, Lula, Alberto Fernández e Bernie Sanders. Já João Paulo II combateu abertamente o comunismo e manteve firmeza em temas sobre moralidade dentro da igreja, e Bento XVI também seguiu uma linha mais conservadora, especialmente no campo doutrinário e litúrgico. Caberá ao novo papa agir em meio a um momento de divisões ideológicas, com foco em restaurar a unidade dentro da Igreja.
Lidar com demandas controversas, algumas relacionadas à “diversidade na Igreja”
Há uma série de temas-tabu à espera de Leão XIV: um deles é a ordenação de diaconisas – durante seu pontificado, o papa Francisco criou duas comissões de estudo para avaliar a possibilidade de mulheres assumirem esse ministério que, hoje, por razões teológicas, é exclusivo de homens que receberam o sacramento da Ordem. Outros assuntos espinhosos que Leão XIV deverá avaliar ao longo do pontificado são a benção para casais do mesmo sexo, a classificação do celibato de sacerdotes como opcional e a comunhão (eucaristia) para divorciados que estão em uma segunda união.
Tratar da questão dos abusos sexuais pelo clero
A crise de abusos sexuais é, há anos, uma ferida aberta na Igreja. O novo papa precisará enfrentar a questão com transparência e responsabilidade, especialmente em regiões onde o problema é subnotificado, como a África.
Na segunda-feira (5), o órgão do Vaticano de proteção à criança (Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores – PCPM) havia aos cardeais que elegerão o novo papa que, ao votarem, priorizassem a preocupação com o combate aos abusos de menores. Está é, portanto, uma demanda que certamente deverá ser apreciada por Leão XIV.
Avançar ou recuar com a sinodalidade
Um dos acontecimentos mais expressivos no Vaticano nos últimos anos foi o Sínodo da Sinodalidade – um processo iniciado pelo papa Francisco em 2021 para escutar várias vozes católicas sobre o futuro da instituição no modelo de “Igreja sinodal”, em que leigos e religiosos participam ativamente das decisões.
Trata-se de um processo de descentralização das decisões pelo Vaticano. O sínodo começou em 2021 e foi concluído em 2024, mas Francisco sinalizava manter a cultura da sinodalidade, que poderá ser mantida ou freada por Leão XIV. Progressistas costumam enxergar na sinodalidade oportunidades históricas de renovação, enquanto conservadores e tradicionalistas temem que leve a mudanças doutrinais e relativismo.
Administração das finanças do Vaticano
O papa Francisco promoveu, ao longo do seu pontificado, uma ampla reforma financeira no Vaticano para enfrentar décadas de má gestão, falta de transparência e escândalos. No entanto, as contas do Vaticano seguem deficitárias. Em 2022, o rombo divulgado pelo Vaticano superou os R$ 200 milhões. De lá para cá a Santa Sé não divulgou mais o valor deficitário, mas segundo a agência Reuters, em 2024 esse valor teria batido a marca dos R$ 500 milhões.
Reengajar jovens e vocacionados à vida religiosa
A Igreja Católica registrou um crescimento de 1,1% no número de fiéis entre 2022 e 2023, totalizando 1,4 bilhão de pessoas, segundo o Annuario Pontificio 2025. O continente africano é o que mais contribuiu para esse número, com crescimento de 3,3%. Por outro lado, em outros continentes o cenário é de estagnação ou redução de fiéis. Um grande desafio do novo papa será engajar jovens para aumentar o número de vocacionados à vida religiosa.
Fotos – Divulgação



