Neste momento de transição de presidência, dois nomes centrais dessa história compartilham suas visões sobre o caminho percorrido, os desafios enfrentados e os planos para o futuro da instituição Ao longo das últimas décadas, a Fundação para o Desenvolvimento Médico e Hospitalar (Famesp) tem se consolidado como uma das mais importantes organizações sociais de saúde do estado de São Paulo. Reconhecida por sua gestão eficiente, compromisso com o SUS e atuação regional qualificada, a Famesp chega aos 44 anos aliando sensibilidade humana e competência institucional – seja nas parcerias consolidadas em Botucatu seja como OSS parceira do Estado de São Paulo, atuando em outras cidades paulistas na gestão de equipamentos públicos de saúde. Neste momento de transição de presidência, dois nomes centrais dessa história compartilham suas visões sobre o caminho percorrido, os desafios enfrentados e os planos para o futuro da instituição. De um lado, Antonio Rugolo Junior, que deixa a presidência após uma década à frente da Fundação, encerra um ciclo marcado por ética, humanização, conquistas estruturais e reconhecimentos institucionais. Rugolo, cuja trajetória mescla técnica e sensibilidade, é um defensor da saúde pública com planejamento, qualidade e responsabilidade social. De outro, Pasqual Barretti, que reassume a presidência após passagens anteriores pela Famesp e experiência recente como Reitor da Unesp. Barretti traz um olhar renovado para a expansão responsável e o fortalecimento da presença institucional, sobretudo em Botucatu, cidade onde fica a sede da Fundação. Em entrevistas exclusivas, os dois líderes compartilham suas experiências, avaliações e propostas. A transição entre gestões não é apenas administrativa, é simbólica de um modelo de liderança que valoriza o diálogo, a continuidade e o compromisso com o interesse público. O legado de quem sai e as diretrizes de quem chega, em um momento que reafirma a Famesp como um projeto coletivo que une ciência, cuidado e gestão pública de qualidade, gerando, atualmente, mais de seis mil empregos diretos. |
Pasqual Barrettti Presidente da Famesp fala sobre os rumos da nova gestão. |
Pessoas no centro da gestão e projetos de ampliação
Presidente da Fundação entre 2005 e 2015, o gestor retorna ao cargo com foco em fortalecer a atuação regional e ampliar a presença da Organização em Botucatu. Após comandar a Famesp entre 2005 e 2015 e exercer o cargo de reitor da Unesp de 2021 a 2025, o professor Pasqual Barretti retorna à presidência da Fundação para o Desenvolvimento Médico e Hospitalar. Ele sucede o professor Antonio Rugolo Junior, que esteve à frente da instituição por uma década.
“Tenho uma boa relação com o professor Rugolo, que fez uma excelente gestão. Ele deixa um legado muito importante. A Fundação, hoje, tem oito unidades com seis certificações, inclusive uma certificação internacional. Temos protocolos de compliance, auditoria, e uma estrutura administrativa muito boa. Eu diria que o grande mérito da última gestão foi esse: qualificar a gestão como um todo”, avalia.
Professor Pasqual também destacou o crescimento da Famesp nos últimos anos. “A Fundação mudou muito quantitativamente e qualitativamente. Se nós fizermos um recorte histórico, a grande expansão foi entre 2002 e 2013. Mas a qualificação desse crescimento foi feita agora”, destaca.
Fortalecer a presença em Botucatu
Entre os principais objetivos de sua nova gestão, o professor ressalta o fortalecimento da atuação da Famesp em Botucatu, cidade onde a Fundação está sediada. “Nós temos parcerias com o município nos dois prontos-socorros e no Centro de Saúde Escola – Unidade Auxiliar da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB/Unesp). Mas estamos fora da atenção básica e de alguns equipamentos estratégicos, como o Hospital do Bairro e o AME Botucatu. São equipamentos públicos gerenciados por outras entidades, e a Famesp precisa ocupar um espaço maior na dinâmica municipal”, pondera o professor Pasqual.
Segundo ele, um dos obstáculos está na legislação local: “A lei municipal que regula a atuação das organizações sociais de saúde (OSSs) foi criada com base num modelo restritivo. Essa norma pode ser rediscutida, para que a Fundação possa concorrer com igualdade nas próximas seleções”, defende.
Novas parcerias com responsabilidade
Ao comentar sobre a possibilidade de ampliar a atuação da Famesp para outros municípios, o professor Pasqual disse que a Fundação tem sido procurada por diferentes instituições. “A Santa Casa de São Manuel nos procurou. A direção da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) também. Eles estão tentando entender nosso modelo. Não queremos expandir a qualquer custo, mas com responsabilidade. O contrato de gestão tem que ser bom para quem contrata e para quem executa. Esse equilíbrio é fundamental”, enfatiza.
Avaliação dos serviços já gerenciados
Sobre o Serviço de Ambulatórios Especializados de Infectologia “Domingos Alves Meira” (SAEI-DAM), unidade própria da Famesp, o professor ressaltou sua importância: “O SAEI é um serviço de excelência, referência em HIV/Aids e hepatites. É um equipamento que queremos preservar com muito cuidado. O desafio maior é o financiamento, porque ele depende quase que exclusivamente de recursos do Ministério da Saúde”, alerta.
Já em relação ao Serviço de Reabilitação Lucy Montoro Botucatu, ele comentou: “É um equipamento que está funcionando bem dentro da sua capacidade. A referência é feita pela própria gestão da Rede. A ideia é manter esse serviço e acompanhar de perto os resultados”, comenta.
Relação com a Faculdade de Medicina e Hospital das Clínicas
Ao ser questionado sobre a relação entre a Famesp, a Faculdade de Medicina de Botucatu e o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), o professor Pasqual falou da importância do diálogo institucional: “Já vivemos períodos difíceis. Mas, quando fui diretor da Faculdade, conseguimos restabelecer o diálogo e trabalhar em conjunto. Isso depende de duas coisas: da situação financeira e da disposição das partes em manter uma relação republicana”, analisa.
Pessoas no centro da gestão
Por fim, ele enfatizou que as pessoas estarão no centro da nova gestão: “O colaborador da Famesp pode esperar de mim o mesmo olhar que tive como reitor da Unesp. Os recursos são limitados, mas o nosso esforço será no sentido de garantir não só o orgulho de fazer parte da instituição, mas também motivação e oportunidades para continuar e crescer aqui dentro”, finaliza.
Antonio Rugolo Junior
Entre a ciência, o cuidado e a gestão pública
Discreto, avesso a protagonismos e de fala serena, o médico Antonio Rugolo Jr., 68 anos, natural de Laranjal Paulista (SP), é um nome respeitado quando se fala em gestão pública de saúde no interior paulista. Conhecido por sua ética, liderança parceira e domínio técnico-administrativo, Rugolo acredita que a saúde pública precisa ser planejada com visão estratégica e humanizada, com transparência e qualidade.
Formado pela Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB/Unesp), doutor em Pediatria e neonatologista por formação, Rugolo iniciou sua vida profissional nos leitos da UTI Neonatal. Mais tarde, a experiência de lidar com a vida em seus limites o preparou para outro tipo de desafio: a gestão de instituições públicas de saúde, onde tomar decisões sob pressão e liderar com firmeza e estratégia se tornaram habilidades fundamentais.
Iniciou sua experiência com administração e gestão hospitalar no final dos anos 90, quando passou a assumir cargos diretivos no Hospital das Clínicas de Botucatu (HC-FMB), na Faculdade de Medicina (FMB-Unesp) e na Famesp, onde foi diretor-presidente entre 2003 e 2005 e entre 2015 e 2018, com afastamento no período de 27 de abril de 2018 a 31 de dezembro de 2018 para exercer o cargo de Secretário Adjunto da Saúde na Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP). Reassumiu a Presidência da Famesp em janeiro de 2019, cumprindo mais dois mandatos por reeleição, até junho de 2025.
Entre 2013 e abril de 2018 e a partir de janeiro de 2019 de forma ininterrupta, Rugolo também segue à frente da gestão de serviços estaduais de saúde por meio de parceria com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. O trabalho inclui a gestão de Ambulatórios Médicos de Especialidade – AME (em Bauru, Itapetininga e Tupã), do Hospital Estadual Bauru, Hospital de Base de Bauru, Hospital Manoel de Abreu, Maternidade Santa Isabel e Serviço de Reabilitação Lucy Montoro Botucatu. A gestão desses serviços estaduais ocorre por meio de contratos firmados com a SES-SP.
Durante todos esses anos, o médico consolidou um grupo de confiança para atuar nesses serviços, além de criar equipes capazes de otimizar áreas estratégicas para todas as unidades, como compras, contratos, processos seletivos, informática em saúde, ensino e pesquisa, comunicação, educação e qualidade, jurídico, entre outros. E se orgulha dos resultados obtidos, bem como dos valores intangíveis defendidos em sua gestão, como ética, escuta, cuidado, responsabilidade e humanização. Não à toa, em seus mandatos foram mapeados e definidos a missão, visão e os valores institucionais da Famesp, criado o portal da transparência (https://www.famesp.org.br/transparencia/), implantado o programa de integridade institucional, bem como os departamentos de Compliance e LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). Em sua gestão também foram elaboradas políticas institucionais, como, por exemplo, a de segurança da informação, com comitê próprio para essa finalidade. Outro legado deste trabalho foram incrementos nas áreas de ensino e pesquisa e o investimento na capacitação profissional em todos os serviços de saúde sob gestão da Famesp.
Recentemente, por sua atuação em prol da população, Rugolo foi homenageado nas Câmaras Municipais de Bauru e de Botucatu, recebendo o título de cidadão bauruense e de cidadão botucatuense.
Linhas de história
Em junho de 2012, quando a Famesp assumiu a gestão da Maternidade Santa Isabel (MSI), em Bauru, houve um momento tenso: o governo estadual cogitava o uso da tropa de choque para retirar da unidade os profissionais da antiga gestora. Rugolo era vice-diretor presidente da Fundação, na época, e foi categórico: “Com tropa de choque a Famesp está fora!”, disse. Naquele dia, ligou diretamente para o governador, conversou com o coronel responsável pela operação e conduziu, com firmeza e serenidade, uma transição pacífica. Ao seu estilo.
Mais do que uma ação pontual, sua gestão na maternidade é exemplo do que ele acredita ser gestão pública de verdade: olhar para as necessidades reais da população. Rugolo considerava inaceitável que, até então, Bauru dependesse de Botucatu para tratar seus recém-nascidos críticos, com apenas 9 leitos de UTI neonatal, enquanto Botucatu, distante mais de 100 km, mantinha 17. Com articulação, projeto técnico e persistência, liderou a ampliação da unidade em Bauru, que passou a contar também com 17 leitos de UTI neonatal, equalizando a oferta de cuidado intensivo aos recém-nascidos da região.
“No final de 2012, assumimos o Hospital de Base de portas fechadas, com mais de 1.500 trabalhadores, e com todos os riscos trabalhistas e assistenciais inerentes ao perfil da unidade. Era um hospital totalmente deteriorado em termos de estrutura física, com equipamentos quebrados, corpo técnico e médicos desmotivados. Foi um desafio e tanto”. Com pouco menos de um ano de gestão, a Famesp deu o pontapé inicial nas atividades de ensino e pesquisa no Hospital de Base, abrindo campos de estágio em áreas de graduação, pós-graduação e residência médica. Hoje, tanto o Hospital de Base quanto os outros sob gestão da Famesp, são campo de ensino consolidado.
“Em momentos de crise, o que mantém uma equipe unida é a clareza de propósito e a presença do líder. Olhar no olho, ouvir de verdade, compartilhar as dificuldades. A confiança nasce da verdade, mesmo quando a notícia não é boa”, destaca.
Durante esta gestão, seis dos oito serviços estaduais sob responsabilidade da Famesp receberam acreditações e selos de qualidade reconhecidos nacional e internacionalmente. Em março de 2024, o Hospital Estadual de Bauru (HEB) alcançou reconhecimento internacional ao receber a certificação da Agência de Calidad Sanitaria de Andalucia (ACSA), uma das mais respeitadas no mundo. O selo atesta conformidade com padrões rigorosos de segurança, gestão de riscos e melhoria contínua.
O Hospital de Base de Bauru (HBB) e a Maternidade Santa Isabel conquistaram o selo CQH da Associação Paulista de Medicina, em 2023 e 2025, respectivamente. Os AMEs de Tupã, Bauru e Itapetininga também receberam certificações da ONA (Organização Nacional de Certificação).
“Qualidade não é um troféu na estante. É uma forma de trabalhar todos os dias, com seriedade e humildade. E isso só se consegue com equipe — ninguém faz isso sozinho.”
Mesmo comandando estruturas complexas, Rugolo não abre mão do contato direto com as equipes e da responsabilidade com cada decisão. Seu estilo de liderança é discreto, mas firme. Humanizado, mas técnico. E movido por uma convicção clara:
“A saúde pública precisa funcionar. Para isso, é preciso gestão com ética, transparência e responsabilidade. E também é preciso política — no bom sentido da palavra.”
Rugolo é enfático ao dizer que a saúde deve saber usar a política para captar recursos, e não ser usada por ela. Em sua gestão, a Famesp realizou um trabalho contínuo de educação de parlamentares sobre o SUS, explicando fluxos, necessidades e gargalos. Essa aproximação institucional, feita com clareza e propósito, resultou em importantes emendas parlamentares destinadas aos hospitais sob gestão da Fundação.
“Fizemos um trabalho de conscientização. Explicamos que o SUS não é uma coisa distante. É o pronto-socorro, é a UTI, é a maternidade da cidade deles. Quando o parlamentar entende isso, ele ajuda mais e melhor.”
Para ele, a política pode – e deve – ser instrumento de transformação.
“A política não pode usar a saúde para se promover. Mas a saúde precisa da política para crescer com justiça e planejamento.”
Pai de dois filhos, homem de hábitos simples e apaixonado pela natureza, Rugolo se emociona ao lembrar do primeiro dia em que viu a UTI neonatal de Bauru funcionando em plena capacidade — um símbolo de equidade regional conquistada com diálogo e ação. “É um orgulho saber que a Maternidade Santa Isabel não deve nada para nenhum hospital particular”.
Com o olhar sempre voltado ao futuro, ele acredita que a saúde pública brasileira precisa se reinventar, com investimento, formação de lideranças e um uso cada vez mais inteligente da tecnologia a serviço das pessoas.
“A maior ameaça é a dificuldade de financiamento do SUS. A maior oportunidade é o talento humano. O SUS é um projeto coletivo. E precisa de gente comprometida para fazer acontecer, todos os dias.”
Superintendência de Saúde: planos futuros
Intensificar a parceria já existente com o Departamento Regional de Saúde de Bauru (DRS-VI) e aperfeiçoar o perfil assistencial das unidades de saúde sob gestão da Famesp, otimizando recursos e serviços oferecidos à população, estão entre os planos de trabalho do professor Rugolo à frente desta estrutura da Famesp responsável pela gestão dos contratos com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.
Alguns destaques de trabalho da equipe durante sua gestão, entre 2021 e 2025
Criação e disseminação do Manual de Conduta Ética
Implantação e implementação do Departamento de Compliance
Implantação e implementação do Departamento de Controle Interno e auditoria.
Implantação e implementação do Departamento de Qualidade.
Implantação e implementação das políticas institucionais da Famesp.
Implantação e implementação de procedimentos operacionais padrão nos departamentos administrativos.
Implementação de protocolos clínicos e assistenciais padronizados nas unidades de saúde sob gestão.
Redução no tempo de espera para atendimentos especializados.
Implantação e implementação de painel power bi (business intelligence) com perfil epidemiológico das unidades de saúde sob gestão.
Implantação e implementação de painel power bi (business intelligence) para acompanhamento das metas contratuais em tempo real pelos gestores das unidades de saúde.
Implantação e implementação da plataforma EAD-Famesp, oferecendo cursos personalizados para atender as necessidades específicas de cada membro da equipe, com flexibilidade, permitindo que o colaborador acesse o conteúdo do treinamento quando for mais conveniente.
Da Assessoria

