Atualmente, além de competir, a professora ministra aulas particulares, realiza trabalhos voluntários, treina atletas, idosos e atletas paralímpicos
Sem qualquer sombra de dúvida, a professora Silmara Izidoro Modesto é uma das mais conhecidas e conceituadas esportistas de Botucatu em provas de atletismo e já representou a Cidade em diferentes competições municipais, estaduais e federais. Sua trajetória e dificuldade e performance no atletismo são contadas em um texto escrito por Anderson Oliveira.
Silmara veio de uma família humilde, de trabalhadores da roça — cortadores de cana, colhedores de café. Desde pequena, enfrentou a expectativa de seguir esse mesmo caminho, como tantos ao redor dela. Mas havia algo diferente na Silmara. Ela carregava dentro de si um sonho: estudar, mudar sua realidade e transformar a história da sua família.
Mesmo com todas as dificuldades — financeiras e familiares — ela sempre foi dedicada aos estudos. Desde o ensino fundamental e médio, se destacava como aluna. Seu grande sonho era cursar uma faculdade. No entanto, sabia que talvez teria que trabalhar na roça primeiro, juntar dinheiro e, quem sabe, fazer um curso técnico. Enquanto isso, via seus colegas seguindo caminhos facilitados pelas condições financeiras de suas famílias.
Na sua cidade, a Secretaria de Esportes promovia atividades como vôlei e futebol, mas Silmara morava com a avó, uma senhora muito rígida, e enfrentava dificuldade até para sair de casa. Além disso, sendo uma menina negra, sofria preconceito na escola — e temia viver isso também no esporte, onde só via meninas brancas no time de vôlei. Com o incentivo da prima, criou coragem e perguntou se havia vaga. Com alguma resistência, foi aceita
E foi ali, no vôlei, que nasceu uma nova paixão. Mesmo sendo a mais baixinha da equipe, se destacou. Conciliava treinos com as tarefas domésticas e sempre ajudava a avó. Um dia, durante um treino, um professor a viu jogando e perguntou se ela gostaria de fazer um teste para compor uma equipe de revezamento. Ela topou — e foi a mais rápida. Ele lhe disse: “Você é velocista, corre muito bem. Vamos treinar corrida. ” Foi assim que começou sua trajetória no atletismo.
Silmara passou a competir por Botucatu nos Jogos Escolares, vencendo todas as provas: 100, 200 e 400 metros. Outro técnico, impressionado com seu desempenho, a convidou para integrar uma equipe mais estruturada. As oportunidades começaram a surgir — mas os desafios também. Treinava muitas vezes apenas com o almoço das 10h da manhã. Já chegou a desmaiar de fome e foi parar no hospital. Ainda assim, não desistiu.
Deus colocou pessoas especiais no caminho dela: técnicos, professores, e até o prefeito da cidade, que ofereceu cesta básica e ajuda de custo. Isso foi essencial para que ela conseguisse continuar treinando e estudando. Sua rotina era exaustiva: viajava todos os dias, estudava de manhã, treinava à tarde e voltava à noite. Houve momentos de desânimo, mas ela seguiu firme.
Concluiu o ensino médio e conquistou uma bolsa de 100% para cursar a Faculdade Educação Física. Durante os quatro anos de graduação, enfrentou muitas privações. Muitas vezes, não tinha dinheiro para comer. Ia da Faculdade direto para o treino, com fome. Mas sua determinação nunca vacilou. Com muito esforço e coragem, Silmara se formou professora, realizou seu sonho e se tornou referência nos esportes, participando de diversas competições. Foi vice-campeã no Circuito Corpore em São Paulo, em disputas com atletas renomados, levando orgulho para cidades do interior. Com perseverança, se tornou exemplo de superação.
Trabalhou como professora, abriu sua própria assessoria esportiva para jovens e adultos, e fundou o Instituto Silmara Modesto, que chegou a atender 80 crianças por meio de uma parceria com outro instituto. No entanto, por dificuldades de gestão e falta de apoio financeiro, teve que fechar o projeto. Esse foi um período difícil — enfrentou uma crise emocional profunda, chegou a ter depressão. Mas, mais uma vez, venceu.
Apesar dos contratempos, houve um momento decisivo em sua vida. Ela decidiu resgatar sua relação com o esporte — não mais como competição, mas como expressão pessoal. O brilho nos olhos dela ao reencontrar essa paixão era indescritível. Começou a treinar novamente, aos poucos, redefinindo o que era sucesso. Voltou a competir, mas agora mais forte, mais consciente de si mesma — e, pasmem: ainda mais inspirada.
Hoje, além de competir, dá aulas particulares, realiza trabalhos voluntários, treina atletas, idosos e atletas paralímpicos. Ver o brilho e o amor com que ela faz isso não tem preço. Costuma dizer que “o exercício é uma válvula de escape para a vida — essencial para a saúde física e mental”. Também afirma que “é grata à sua família e a Deus por todas as lições aprendidas e apoio”.
Com a retomada da rotina, tem estudado mais sobre gestão e adquirido novas experiências. E já faz planos concretos para abrir um novo instituto, com uma equipe preparada e estrutura adequada. Silmara costuma dizer: “Nada é impossível. Basta acreditar e persistir. Não importa a idade, nem as condições financeiras — você consegue. ”
Por – Anderson Oliveira



