Novos centros terão a missão de buscar soluções para desafios previamente definidos pelas secretarias estaduais nas áreas de saúde, energia, agricultura, manufatura avançada, cidades inteligentes, segurança pública e meio ambiente
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) anunciou a constituição de 21 novos Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCDs) em parceria com universidades, instituições de pesquisas, secretarias de Estado e outros órgãos de governos. O investimento da Fundação será de aproximadamente R$ 130 milhões.
A Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp, integra um dos projetos aprovados, denominado Centro Avançado de Pesquisa Smart B100, desenvolvido em parceria com Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Fatecs de Pompéia e Cotia, Esalq/USP, Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia e Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, além de outras unidades da Unesp (Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Faculdade de Filosofia e Ciências e Instituto de Biociências).
Assim como os Centros já em operação, os novos centros terão a missão de buscar soluções para desafios previamente definidos pelas secretarias estaduais nas áreas de saúde, energia, agricultura, manufatura avançada, cidades inteligentes, segurança pública e meio ambiente.
O Centro Avançado de Pesquisa Smart B100 (CCD-SB100) tem como objetivo construir uma plataforma digital chamada Smart B100 (SB100), incorporando conhecimentos científicos já consolidados do Boletim 100 e novos sobre biologia do solo e planta, integrados por tecnologias de Inteligência Artificial (IA) generativas, como por exemplo o Chat GPT.
A ideia dos pesquisadores é que o SB100 seja a nova geração do Sistema Boletim 100, um tradicional programa institucional do governo do Estado de São Paulo que disponibiliza aos produtores rurais, ferramentas e informações para embasar decisões de manejo de fertilidade do solo há mais de 40 anos. Integram esse sistema uma rede com cerca de 170 laboratórios de análises de solo e uma publicação organizada pelo IAC, denominada “Boletim 100: recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo”, cuja última edição impressa, lançada em 2022, reúne recomendações para mais de 130 culturas, consolidadas a partir do trabalho de especialistas.
Voltado num primeiro momento especificamente para as culturas de cana-de-açúcar e citros, o CCD-SB100 atuará com a meta de construir uma interface avançada entre o conhecimento agronômico e a plataforma digital SB100. O projeto também visa a criação de índices de decisão multicritério para aumentar a eficiência da utilização de fertilizantes e bioinsumos e, por fim, transformar os dados de pesquisa e dados coletados junto aos diversos setores do agronegócio em recomendações agronômicas cada vez mais precisas. Para tanto, além de atributos físico-químicos, o SB100 vai incorporar informações sobre a saúde do solo, processos de ciclo de carbono e conhecimentos referentes a respostas fisiológicas e expressão gênica das plantas para a recomendação do uso de insumos.
“Nosso projeto prevê o desenvolvimento de ferramentas mais básicas acessíveis aos pequenos produtores, como também ferramentas adequadas a grandes produtores e empresas. Dessa forma, serão criadas oportunidades para o surgimento de outros projetos, a criação de startups e outros produtos, que não estão previstos nesse primeiro momento, mas podem surgir como ramificações a partir da atuação do CCD-SB100)”, comenta o professor João Bonetti, que atuará na gestão do Centro. “O Boletim 100 é fundamental para a agricultura no estado de São Paulo e vem sendo produzido há muito tempo. Queremos partir desse banco de dado imenso que já existe e, com as novas ferramentas criadas, gerar novas informações e identificar onde temos que avançar no conhecimento, produzindo novos dados. Dessa forma, poderemos oferecer ao setor produtivo respostas para suas expectativas, trabalhando com esse grande volume de dados”.
Além de ter o professor João Bonetti como pesquisador associado e um dos responsáveis pela gestão do CCD-SB100, o projeto tem o professor Leonardo Theodoro Büll como um dos seus idealizadores, e conta, em sua equipe, com a presença do professor Carlos Alexandre Costa Crusciol, como pesquisador principal, entre outros professores colaboradores. O IAC figura no projeto como instituição sede, constando o engenheiro agrônomo Dirceu de Mattos Junior, como pesquisador responsável pelo Centro. O pesquisador Heitor Cantarella, também do IAC, e atual editor do Boletim 100, também integra a equipe.
“É um grupo de trabalho muito forte, com a reunião de instituições consagradas e que busca um avanço em relação ao que o Boletim 100 já fornece, ou seja, a recomendação de adubação e calagem para as culturas a partir de análises de macro e micronutrientes no solo”, explica o professor Büll. “Pensamos em agregar informações em termos de micro e até mesmo macrobiota do solo que possam influenciar a produtividade das culturas, começando com cana e citros que são duas culturas importantes para o estado de São Paulo. A ideia desse CCD é avançar nas informações obtidas em análises microbiológicas, ou seja, vamos introduzir uma variável extremamente significativa, que é a biomassa microbiana do solo. O projeto inclui até mesmo a possibilidade de análises de DNA da microbiota dos solos. Buscamos, enfim, integrar o tradicional Boletim 100, trazendo um novo índice de qualidade do solo que é denominado saúde do solo”.
Com o CCD, a previsão é que cerca de um milhão e meio de reais sejam alocados apenas na FCA. Ao todo serão duas bolsas de mestrado duas de doutorado, duas para treinamento técnico nível 5 e mais uma de pós-doutorado para pesquisadores que trabalharão diretamente nesse projeto, fomentando a produção científica dentro da unidade.
“Esses CCDs representam uma inovação importante da Fapesp. A sociedade precisa de pesquisa que revertam em resultados e esse modelos busca atender essa demanda social”, comenta o professor Büll. “Nesse modelo, trabalharemos com metas, para atender os interesses das empresas que participarão do projeto”, complementa o professor Bonetti.
Modelo de cofinanciamento
Já estão implantados 25 CCDs, selecionados nas duas primeiras chamadas da FAPESP, em 2019 e 2021. Todos operam em modelo de cofinanciamento: para cada R$ 1 solicitado à FAPESP, contrapartida idêntica é aportada pelas entidades parceiras. O financiamento é de longo prazo, por até cinco anos, e os projetos apresentados devem ter governança clara, mecanismos de revisão ao longo do prazo de execução e metas intermediárias. Os resultados devem promover o avanço no conhecimento e proporcionar a melhoria das políticas públicas.
O objetivo da FAPESP com o lançamento desse três editais é identificar, mensurar e detalhar grandes desafios públicos do Estado de São Paulo e, a partir deles, reunir e organizar diversos atores institucionais em busca de soluções adequadas para resolver ou diminuir esses gargalos.
Assim, o programa CCDs recebe propostas submetidas por consórcios formados por pesquisadores vinculados a universidades e instituições de pesquisa paulistas, gestores de órgãos do governo estadual e de municípios, além de empresas e organizações governamentais (ONGs).
Na primeira chamada foram selecionados 12 Centros, orientados para a solução de problemas nas áreas de saúde, segurança pública, alimentação e agricultura e desenvolvimento econômico, entre outras.
Na segunda chamada, foram aprovados 15 CCDs, com pesquisas nas áreas de desenvolvimento de biofármacos, inovação em políticas públicas urbanas, inovação tecnológica para emergências em saúde, soluções para resíduos, segurança hídrica, doenças humanas e animais, emissões de gases de efeito estufa e aprimoramento de vacinas, entre outros. Em 2023, a FAPESP lançou terceira chamada em que foram selecionados os 21 novos CCDs, dentre os quais figura o CCD SB 100.
Agência FAPESP