Piloto Felipe Massa revela 'confiança alta' em ser declarado o campeão da Fórmula 1 de 2008
07/06/2024
Piloto Felipe Massa revela 'confiança alta' em ser declarado o campeão da Fórmula 1 de 2008

Foto - Divulgação

Massa venceu em Interlagos, mas viu Hamilton levar o título após o britânico ultrapassar Timo Glock na última volta e, com essa manobra, o então piloto da McLaren subiu para quinto e conseguiu a pontuação necessária para o troféu

 

Após dar início ao processo para ajuizar ação contra a Federação Internacional do Automobilismo (FIA) e Formula One Management (FOM) pelo título da F1 2008, o piloto de Botucatu,  Felipe Massa enfim quebrou o silêncio. Em entrevista exclusiva ao Globo Esporte e ao ge, o brasileiro afirmou sentir-se campeão mundial e que, se não fosse a batida intencional de Nelson Piquet Jr no GP de Singapura daquele ano, teria garantido o título de pilotos com a Ferrari.

- (O escândalo) machuca e tira de uma situação em que, "pô", você tinha um título na mão. Aquele título era nosso. E foi tirado por uma manipulação. Sem dúvidas é algo muito sério para o esporte, para a justiça, e para todas as pessoas que fazem parte do esporte que a gente sempre acha que é algo limpo, e não foi - disse Massa.

Felipe assegura não ter mais um relacionamento com Piquet Jr, pivô do escândalo que ficou conhecido como "Singapuragate", e também diz não ter nada contra Lewis Hamilton, campeão em 2008 por um ponto de diferença - e que pode ser prejudicado em caso de desfecho positivo para Massa.

- Acho que a briga aqui é sobre uma corrida que foi manipulada. Não tenho nada contra o Hamilton. E (a briga) é sim sobre uma corrida que foi manipulada, e alguém pagou mais por isso. Com certeza fui eu.

Ao citar o escândalo do GP da Singapura, Felipe afirmou que os envolvidos não teriam sido punidos no episódio que chamou de "sacanagem, roubalheira". Flavio Briatore, então chefe da Renault e um dos mandantes da batida, foi banido após investigação em 2009, mas a pena foi revogada no ano seguinte. Supenso pelo ocorrido, o engenheiro Pat Symonds retornou ao esporte em 2011 e hoje é diretor técnico da F1.

- Quando a gente vê que algo foi manipulado, na hora que a gente vê que houve uma sacanagem, uma roubalheira, a gente fica muito chateado. Logicamente, descobri em 2009 e fiz tudo possível para mostrar que as coisas não estavam acontecendo da maneira certa, porque no final ninguém foi punido pelo acontecido. Foram punidos, mas depois de dois anos o Pat Symonds voltou, o Briatore que ia ser punido para sempre de trabalhar na F1 voltou em pouco tempo, foi liberado. Não aconteceu nada com a equipe. No final, ninguém foi punido por uma roubalheira - acrescentou Massa.

O ex-piloto da Ferrari relembrou o desfecho do GP do Brasil de 2008: Massa venceu em Interlagos, mas viu Hamilton levar o título após o britânico ultrapassar Timo Glock na última volta. Com a manobra, o então piloto da McLaren subiu para quinto e conseguiu a pontuação necessária para o troféu.

- Me sinto campeão. E acredito que todos os brasileiros que sofreram naquela última corrida do ano... Sem dúvidas me sinto campeão, e seria uma comemoração incrível aqui em Interlagos, naquele último momento de 2008 - completou.

Sem entrar em detalhes jurídicos - assunto que preferiu deixar restrito ao seu time de advogados, o brasileiro disse já ter recebido respostas de FIA e FOM sobre o andamento da ação, mas não disse como foram esses retornos. Declarou, ainda, ter recebido apoio de pe.

 

Entenda o caso

Toda a empreitada jurídica de Massa é motivada por declarações de Bernie Ecclestone. Em março de 2023, o ex-chefão da F1 revelou que ele e Max Mosley - à época, presidente da FIA - souberam do escândalo do Singapuragate ainda em 2008, mas não abriram investigações para evitar manchar a imagem da categoria. Após Felipe enviar carta prévia ao ajuizamento da ação para FIA e FOM neste mês de agosto, o ex-gestor alegou não recordar ter dado as declarações em questão.

Além disso, Charlie Whiting já havia revelado seu conhecimento sobre o caso em entrevista para um documentário sobre a vida de Mosley. O ex-diretor de prova da F1, morto em 2019, disse ter recebido a informação sobre o Singapuragate no GP do Brasil de 2008 - Nelson Piquet, pai de Nelsinho, foi quem primeiro revelou o caso.

- Toda a história aconteceu depois da entrevista que ele (Bernie) fez. E outra, não foi só a entrevista que ele fez. (...) Vimos uma entrevista que o Whiting deu antes de falecer que, na última corrida do ano, ele teve uma conversa com o Nelson Piquet pai, que contou tudo para ele. Foi aqui em São Paulo, em 2008, e dá a entender que a entrevista do Bernie realmente é correta - complementou Massa.

Na etapa de Marina Bay, a 15ª de 18 no calendário 2008, Nelson Piquet Jr bateu de forma premeditada para ajudar o espanhol Fernando Alonso, seu companheiro na Renault, a vencer. Sob safety car, a Ferrari chamou Massa aos boxes mas liberou o piloto com a mangueira de abastecimento ainda acoplada ao carro. De quebra, Felipe quase colidiu com Adrian Sutil no pit lane e foi punido por liberação perigosa.

No decorrer da corrida, Massa ainda furou um pneu e teve que ir novamente aos boxes; o piloto da Ferrari terminou em 13º, fora da zona de pontuação. Hamilton, terceiro colocado no GP da Singapura, somou seis pontos e aumentou a vantagem no campeonato para sete, com três etapas restantes para o fim da temporada.

- A manipulação aconteceu antes do pit stop (da Ferrari). Aconteceram muitas coisas naquele pit stop. A mangueira e tantas outras coisas que aconteceram não interferem e não interessam, porque tudo aconteceu antes daquele pit stop. Aquela corrida deveria ter sido cancelada ou, na pior das hipóteses, travada na volta 14. Aquele pit stop, nas regras e na manipulação, não aconteceu - disse Massa.

O artigo 6.5 do regulamento esportivo da F1 2008 previa que, caso uma corrida fosse suspensa e não pudesse ser retomada, apenas a metade dos pontos seria distribuída se o líder tivesse completado mais de duas voltas, mas menos de 75% da distância original da corrida. A batida de Piquet ocorreu na 14ª de 61 voltas em Singapura. Nesse contexto, Massa, líder no momento da colisão, teria somado cinco pontos; Hamilton, que era segundo, somaria quatro.

 

                                                                             Entrevista de Massa ao ge na íntegra

ge: Antes de chegarmos à situação atual. Ainda lembra a sensação de ver o título de 2008, no âmbito esportivo, muito próximo? Antes da ultrapassagem de Hamilton sobre Glock, antes de saber do Singapuragate...

Felipe Massa: Lembro tudo como se fosse ontem, a gente disputando na última corrida. Foi um campeonato muito bom, onde fui o piloto com maior número de vitórias, pole positions. Aquela sensação da luta na última corrida, com todos os brasileiros me apoiando, e a gente dominando. Foi algo emocionante, ainda mais sabendo agora que a gente poderia ter chegado na última corrida liderando o campeonato com uma boa diferença. Isso mostra que aquela situação para os brasileiros, a torcida - uma torcida muito forte que a gente tem no automobilismo. O que um título faz por um país, o que o Senna fez por tantos pilotos que quiseram lutar para chegar na F1 por causa de um ídolo... Lembro muito bem de todo aquele momento.

ge: Sete meses depois, veio à tona que a batida do Nelsinho havia sido proposital. O que pensou quando descobriu que foi uma armação da Renault?

FM: Fiquei muito chateado porque a gente está aqui para fazer o esporte, correr, competir. Acho que o esporte é algo muito bacana para as pessoas, as equipes, os pilotos. Quando a gente vê que algo foi manipulado, na hora que a gente vê que houve uma sacanagem, uma roubalheira... A gente fica muito chateado. Logicamente, descobri em 2009 e fiz tudo possível para mostrar que as coisas não estavam acontecendo da maneira certa, porque no final ninguém foi punido pelo acontecido. Foram punidos, mas depois de dois anos o Pat Symonds voltou, o Briatore que ia ser punido para sempre de trabalhar na F1 voltou em pouco tempo, foi liberado. Não aconteceu nada com a equipe.

No final, ninguém foi punido por uma roubalheira. Então fiquei muito chateado naquele momento onde as coisas não aconteceram da maneira certa. Ainda mais depois de 15 anos, a gente ouviu a entrevista do Bernie Ecclestone dizendo que tanto ele quanto o Max Mosley, o Charlie Whiting, que era o diretor de provas na época, sabiam em 2008 e não fizeram nada para não riscar o nome da F1. Aí foi algo inaceitável, porque isso não é o correto para o esporte.

Estou aqui para brigar pela justiça. Para os torcedores, para mim - porque sempre foi um sonho brigar por um título na F1 -, para todos os brasileiros. O automobilismo brasileiro perdeu muito com isso, o desenvolvimento de pilotos. (Também brigo) pela Ferrari e pelos tifosi, os torcedores da Ferrari também. No final, isso é apenas por justiça do esporte, que tem que ser feita da maneira correta, porque isso não é justo.

ge: Em 2009, passou pela sua cabeça que, se a corrida fosse anulada, você seria campeão?

FM: Em 2009 passou, lógico. Pela minha e pela de todos que entenderam que aquela corrida foi realmente manipulada. No final, lógico que eu pensei, como todas as pessoas pensaram. Existia uma regra que dizia que o troféu seria entregue em dezembro, que sempre acontece a cada ano, e dali para a frente, no ano seguinte, o resultado não podia mais ser mudado. E aí a gente descobre que fizeram isso por querer, sabendo já da situação em 2008, e não abriram o caso para não riscar o nome da F1. Para mim, foi realmente uma sacanagem que fizeram comigo.

ge: Voltando ao GP da Singapura de 2008. Houve um erro da Ferrari, em que você saiu com a mangueira de reabastecimento pendurada. Você chegou a discutir isso com a equipe na época?

FM: Na verdade, a mangueira aconteceu depois da manipulação, então, para mim, não muda nada o que aconteceu depois de uma situação em que a corrida foi manipulada. Depois de um acidente por querer, uma malandragem de parar um piloto, o Alonso, duas voltas antes do acidente para encher o tanque. Ele foi de último para primeiro.

A manipulação aconteceu antes do pit stop (da Ferrari). Aconteceram muitas coisas naquele pit stop. A mangueira e tantas outras coisas que aconteceram não interferem e não interessam, porque tudo aconteceu antes daquele pit stop. Aquela corrida deveria ter sido cancelada ou, na pior das hipóteses, travada na volta 14. Aquele pit stop, nas regras e na manipulação, não aconteceu.

ge: Sobre a sua relação com o Nelsinho. Vocês já falaram sobre esse episódio?

FM: Já tive (uma relação com Nelsinho). No começo de 2009, fomos juntos fazer um treino de kart. Perguntei se ele tinha feito aquilo por querer, e ele disse: "Não, você acha que eu faria algo daquilo por querer? De jeito nenhum, nunca". Depois de alguns meses, ele conta que realmente mandaram ele bater por querer e tudo que aconteceu naquela corrida. Fiquei muito chateado porque eu fui perguntar antes. Logicamente não acreditei do jeito que ele falou. Foi a vez que tive uma conversa sobre isso. Depois ele tentou conversar comigo, mas não valia mais a pena para mim.

ge: Além do que você já disse sobre o Bernie, ele disse que nem você e nem seus advogados procuraram ele para confirmar as declarações sobre o título de 2008. Procede?

FM: Na verdade, toda a história aconteceu depois da entrevista que ele fez. E outra, não foi só a entrevista que ele fez. Foi (também) a que o Charlie Whiting fez no documentário do Max Mosley, que a gente foi atrás depois. Vimos uma entrevista que o Whiting deu antes de falecer que, na última corrida do ano, ele teve uma conversa com o Nelson Piquet pai, que contou tudo para ele. Foi aqui em São Paulo, em 2008, e dá a entender que a entrevista do Bernie realmente é correta. Porque não só ele sabia, como o Charlie Whiting e o Max Mosley, como ele diz na entrevista, sabiam dessa manipulação que aconteceu em 2008. E resolveram não abrir o caso por querer. Então, quer dizer, foi um conjunto entre FIA e Fórmula 1 para não abrir o caso em 2008. Para mim, isso é algo que foi inaceitável.

ge: E agora você procurou o Bernie? Gostaria de falar com ele?

FM: Agora são os advogados que vão trabalhar em cima do caso. Já procurei o Bernie, já falei com o Bernie, o Bernie já falou que para ele o campeão de 2008 sou eu. Ele diz que sente muita pena pelo que aconteceu. Então não tenho mais nada (a discutir). A gente tem um grupo grande de advogados, que vêm estudando o caso desde a entrevista do Bernie Ecclestone. Aqui no Brasil, na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Suíça, na França. E vamos lutar até o final.

ge: Hoje alguém olha para você e pensa: "Ah, mas o Massa agora está tranquilo. Já passou sua vida na F1, está na Stock Car fazendo seus trabalhos". Mas se a gente pensasse em uma linha do tempo fora daquilo que você viveu de 2008 até hoje, com você campeão, sua vida teria sido muito diferente? É isso que te motiva?

FM: A gente sabe o que um título faz por um piloto, os torcedores, por um país. Estou fazendo isso pela justiça do esporte, para que isso não aconteça mais. Isso é a luta e o trabalho que estamos tendo, para ajustar aquilo que aconteceu de maneira errada. Logicamente, o que eu faço é para ter o título. Essa é a nossa luta, mostrar que o que aconteceu foi uma corrida manipulada e, por causa dessa corrida, o vencedor do campeonato mudou. Vamos lutar para conseguir o título.

Sobre o resto, é claro que um título mudaria muita coisa. Contratos, imagem, patrocinadores... Há tantas coisas que mudariam para um piloto com um título. Mas como disse, a luta é para a gente mostrar que o que aconteceu foi inaceitável para o esporte e para a justiça.

ge: Vamos criar uma hipótese. Se você conseguir o título, mas nada de indenização financeira. Para você, valeria?

FM: Acho que é importante a gente lutar para conseguir a justiça do esporte. A gente luta pelo título, e essa é a nossa luta em que vamos até o final. Logicamente, há muitas coisas no meio, como você mesmo disse, que interferem dentro de um título. Mas nisso os meus advogados estão trabalhando. Como disse, vamos lutar pela justiça até o final.

ge: Você tem advogados no Reino Unido, mas lá os danos morais não são um princípio legal. Há uma estratégia por trás disso?

FM: Como eu disse, a gente tem uma equipe grande trabalhando nesse ponto. Vamos, com certeza, agir da melhor maneira possível, que os advogados achem que seja correto.

ge: O Código Esportivo Internacional da FIA coloca a Corte Internacional de Apelação como instância final de tribunal para o automobilismo. A ação seria nessa corte? É ali que estão atuando?

FM: Bom, como eu disse, aconteceu uma situação diferente que mostra que tanto a FIA quanto a F1 sabiam em 2008 e não fizeram nada. Acho que esse é um caso a mostrar que as coisas não aconteceram talvez por querer, naquela situação. Mas acho que o mais importante aqui é mostrar que as coisas aconteceram da maneira errada naquele momento. Por onde vai ser julgado, não cabe a mim. Estamos tentando em tudo quanto é lugar (risos), há um estudo muito grande em cima de tudo.

ge: Você enviou a carta para FIA e FOM de forma prévia à ação, como é obrigatório no Reino Unido. Quanto tempo até que a ação seja ajuizada? Você tem essa informação?

FM: Não tenho. A gente recebeu respostas tanto da F1 quanto da FIA, mas eu não consigo dizer. Não sou eu quem faz esse tipo de situação, mas a gente espera que as coisas aconteçam da maneira mais rápida possível.

ge: Qual foi a resposta? Ainda não pode falar? Positiva ou negativa?

FM: Deixa para lá (risos). Meus advogados... Não cabe a mim.

ge: Hoje o CEO da F1 é o Stefano Domenicali, que era o diretor esportivo da Ferrari em 2008. Obviamente, vocês se conhecem. É uma pessoa que acompanhou tudo de perto. Acha que essa relação pode influenciar nas discussões com a FOM?

FM: O Stefano é como um irmão para mim. É uma pessoa que tem um carinho muito grande por mim, e eu por ele, uma relação muito grande. Logicamente é uma situação que aconteceu no passado, de outra F1. Os donos da F1 hoje não eram naquela época, a FIA também é outra organização hoje em dia. Naquela época (o presidente) era o Max Mosley, hoje em dia é o Mohammed Ben Sulayem. São. pessoas diferentes, e acredito que são pessoas que sabem tudo que aconteceu naquele momento. Espero que ajam da maneira justa para o esporte.

Acho que, hoje em dia, tanto a FOM quanto a FIA agem de uma maneira muito diferente, pensando na justiça, na integridade. Acredito que esse seja um ponto muito importante para eles analisarem a situação da maneira correta, que não aconteceu da maneira certa naquela época.

ge: O mundo ideal, para você, seria você ser declarado campeão, dividir o título com o Lewis Hamilton ou que o campeonato fosse anulado?

FM: O ideal seria eu campeão, e seria logicamente o que aconteceu. O que aconteceu naquela corrida? Foi manipulada, então deveria ter sido cancelada. Esse é o correto. Como tantas pessoas falaram, o resultado daquela corrida foi diferente. Vamos lutar pela justiça, é a única coisa que tenho a dizer.

ge: A gente falou que o título teria mudado sua vida. Acha que também teria impactado diferente no automobilismo do Brasil, como um todo?

FM: Demais. Se você olhar aquela época, havia tantos brasileiros correndo em categorias diferentes, tantos passaram pela F1 depois. Os títulos do Ayrton Senna... Hoje a gente não tem um brasileiro correndo na F1. A gente tem o (Felipe) Drugovich (reserva da Aston Martin) tentando e não conseguindo, (Pietro) Fittipaldi (reserva da Haas) tentando e não conseguiu. Tem o Enzo Fittipaldi agora tentando, e tantos outros pilotos brasileiros. A gente sabe o que um título muda para um país, o que faria pelo desenvolvimento de pilotos, categorias aqui no Brasil. Com certeza seria algo completamente diferente.

Talvez depois daquela época, em 2008, uma criança que teria talvez uns sete anos, hoje teria mais de 20, poderia talvez entrar na F1 hoje em dia. A gente sabe o quanto isso foi duro para o nosso automobilismo, o brasileiro, o Brasil. E não podemos esquecer também da Ferrari e dos torcedores, que são pessoas completamente apaixonadas pela F1, pela equipe. E com certeza também falam que aquela corrida foi manipulada.

ge: A vida do esportista é de vitórias e derrotas, mas o tempo ajuda a superar. Reviver isso depois de tanto tempo te machuca?

FM: Me machuca porque a gente descobriu algo muito sério, então, sem dúvidas, me machuca. Me machuca, acredito que machuca todas as pessoas que fizeram parte daquele momento, toda a torcida. Machuca e tira de uma situação em que, "pô", você tinha um título na mão. Eu acredito, e aquele título era nosso. E foi tirado por uma manipulação. Sem dúvidas é algo muito sério para o esporte, para a justiça, e para todas as pessoas que fazem parte do esporte que a gente sempre acha que é algo limpo, e não foi.

ge: Você se sente campeão?

FM: Sem dúvida, me sinto campeão. E acredito que todos os brasileiros que sofreram naquela última corrida do ano... Sem dúvidas me sinto campeão, e seria uma comemoração incrível aqui em Interlagos, naquele último momento de 2008.

ge: O processo pode afetar a F1 de várias maneiras. A sua história, a do Brasil e a de um dos maiores campeões da história, que é o Lewis Hamilton. Você já pensou nisso?

FM: Acho que a briga aqui é sobre uma corrida que foi manipulada. Não tenho nada contra o Hamilton. E (a briga) é sim sobre uma corrida que foi manipulada, e alguém pagou mais por isso. Com certeza fui eu.

ge: Você falou que Flavio Briatore não foi prejudicado. Você foi o único que perdeu?

FM: O maior perdedor dessa história, por uma manipulação, sem dúvidas fui eu. A gente tem que mostrar que isso foi errado, e que uma corrida roubada tem que ser cancelada.

ge: Depois de 15 anos, essa é uma luta que você está disposto a encarar?

FM: Acho que estou aqui para mostrar que as coisas não aconteceram da maneira justa. Contratei profissionais do lado legal, de tantos países diferentes, para mostrar e lutar até o final. A justiça tem que ser feita pelo esporte.

ge: Alguém do mundo da F1 já falou com você sobre esse assunto?

FM: Já, muita gente. Para falar a verdade, a maior parte das pessoas concorda comigo. Até porque (a deflagração do escândalo) aconteceu em 2009, mas a manipulação da corrida foi confirmada pela FIA. Tudo que aconteceu foi confirmado. A gente não está aqui para contar uma história que ninguém sabe. O que aconteceu foi claro: uma manipulação. E não teve nenhuma mudança por uma corrida roubada. Isso é claro, não há mais o que falar sobre isso. A gente está aqui para mostrar que sabiam em 2008 e não fizeram nada.

ge: Do ponto de vista jurídico, você se sente calçado?

FM: Totalmente, porque as coisas aconteceram de maneira errada pela Federação e pela F1 também, naquela época. Me sinto totalmente calçado e, como eu disse, são pessoas e profissionais que estão muito motivados em ir nesse caso até o fim.


CURTA NOSSO FACEBOOK

PREVISÃO DO TEMPO

© Tribuna de Botucatu todos os direitos reservados.